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| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

O ser humano é, no geral, avesso ao risco. O Brasil, apegado à burocracia cartorial, também é avesso ao risco. Mas, como qualquer empresário pode certificar, risco é parte do negócio. O tabelamento do frete, definido por medida provisória após a catastrófica greve dos caminhoneiros, quer minimizar o risco do negócio transportes. Não conseguirá. O produtor agrícola que depende do transporte para fazer sua safra chegar ao consumidor, também avesso ao risco, já está se precavendo e comprando frota própria. Ao mesmo tempo pretende minimizar o risco de nova greve e buscar redução de custo logístico. O que se conseguirá é o aumento da oferta de transporte e a redução da oferta de trabalho, em especial para transportadores autônomos. Voltaremos, portanto, à estaca zero, tão comum aos círculos viciosos.

O que se conseguirá é o aumento da oferta de transporte e a redução da oferta de trabalho, em especial para transportadores autônomos

Problemas de logística de transportes são, por natureza, complexos. São complexos porque admitem um sem número de soluções paliativas, aquelas que parecem soluções e se revelam problema logo adiante, como a tabela de frete está se revelando. Problemas complexos exigem soluções planejadas cuidadosamente e com implementações de curto, médio e longo prazos. São soluções que exigem constante revisão e correção de rumo. Com a medida provisória, o governo pensou ter solucionado o problema, pelo menos no curto prazo. Não pensou e não pensa no médio e longo prazo, até porque é governo com prazo de validade. Restará aos próximos governantes, esperemos, ter mais sensatez em buscar soluções mais robustas e duradouras. Cabe ao cidadão e eleitor demandar que se dê ao setor de transportes, motor da economia de um país, maior consideração do que, aparentemente, foi dada até agora.

Opinião da Gazeta: O tabelamento do frete (editorial de 17 de junho de 2018)

Leia também: Nossa matriz de transportes desequilibrada (artigo de Fernando Simões Paes, publicado em 12 de junho de 2018)

Algumas discussões, são inevitáveis, sejamos contra ou a favor. Fiquemos com quatro apenas: 1) Buscar maneiras de manter a malha viária pavimentada existente e ampliá-la é problema central a ser atacado, seja por meio de concessão, seja por meio da recriação do Fundo Rodoviário Nacional, extinto em 1988, ou de outra fonte de recursos perene. Melhores estradas significam redução dos custos de manutenção e de combustível das frotas rodoviárias. 2) Também é necessário revisar o Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT) e adequá-lo ao momento econômico nacional e mundial, definindo ações concretas e exequíveis de curto, médio e longo prazo. 3) Reanalisar o preço dos combustíveis e sua tributação sob a óptica do consumidor. Porque não é possível que tanto o agronegócio quanto os transportadores submetam-se ao risco do negócio, enquanto governo e Petrobras descarregam seus riscos na população. 4) Incentivar a gradual substituição da frota de transporte rodoviário, em especial de autônomos, atingindo dois objetivos: movimentar a indústria de veículos de carga, com consequente geração de empregos, e aumentar a segurança nas estradas por meio da redução da idade média da frota. Há soluções. Riscos são minimizados quando compartilhados, pactuados e compreendidos por todos, governo, setor produtivo e cidadãos.

Ricardo José Bertin é engenheiro civil, mestre em transportes, doutor em engenharia mecânica e professor da PUCPR.
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