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A Copa do Mundo deve trazer alegria e euforia, as apresentadoras de TV foram instruídas para rir, sorrir e até gargalhar. Antes mesmo de dizer qualquer coisa. A legião de jornalistas passou duas semanas inventando "abobrinhas" antes do juiz apitar o início da quase-goleada da Alemanha sobre a Costa Rica.

O MIP, Ministério da Informação e Propaganda – entidade recém-criada que reúne o governo, a base aliada, o Legislativo, empresas de comunicação, de publicidade, cervejeiras, operadoras de telefonia móvel e algumas vedetes do jornalismo – orquestrou um clima de festa absoluta. O general-presidente Garrastazu Medici não o faria melhor.

Surgiu então Ronaldo, o Fenômeno, que finalmente voltou a mostrar que faz jus ao título: recusou a palhaçada. E deu um belíssimo drible no chefe da Nação justamente na grande área das metáforas futebolísticas e auto-estima. Revidou com firmeza insinuação de que estaria acima do peso e comparou-a com as antigas fofocas sobre os excessos alcoólicos presidenciais. Lula, o goleiro-presidente, poderia ter ficado sem esse frango.

A fantasia de felicidade ensaiada pela banda do MIP não conseguiu camuflar a dolorosa realidade representada por três outras siglas – o PCC, o MLST e o CV.

O Comando Vermelho aparece aqui por força da sua mais recente façanha, quase ignorada pela imprensa não fosse a estarrecedora reportagem do "Globo" desta sexta: Marcinho VP, um dos líderes da quadrilha, preso numa penitenciária em Bangu, ordenou por telefone a liquidação sumaria dos dois facínoras que feriram na quarta-feira as 17 crianças numa escola no Complexo do Alemão no Rio. A ordem foi cumprida imediatamente.

Em 48 horas, a bandidagem carioca conseguiu humilhar duas vezes o Estado brasileiro: atirou contra uma escola (em teoria um santuário de paz) e, em seguida, substituiu-se aos órgãos de segurança pública, para castigar os responsáveis pelo inédito atentado.

Mas a comprovação de que vivemos sitiados pelo crime organizado e politizado ocorreu um dia antes, em S. Paulo, no presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes, quando Marcola (o líder formal do PCC) declarou tranqüilamente a oito deputados federais da CPI do Tráfico de Armas que os motins dos dias 14-15 de maio foram interrompidos por ordem telefônica a um dos seus asseclas, durante o encontro promovido por sua advogada e as autoridades policiais paulistas. Marcola mandou assegurar ao seu alto comando que estava bem e que, por isso, a sedição deveria ser suspensa. O que aconteceu em algumas horas.

A candidez do bandido não foi casual, não lhe aplicaram o soro da verdade, nem foi obrigado a confessar segredos. Queria registrar de forma clara e precisa que ele manda naquele pedaço de Brasil e não o governo – federal ou o paulista. A surpreendente constatação de que o Estado brasileiro perdeu a sua soberania e capitulou diante do poder do crime organizado não apareceu na primeira página dos três jornalões nacionais: a festa ludopédica que se iniciava na Alemanha era mais importante.

E como se explica a pronta e extemporânea firmeza do governo, do seu partido, dos seus aliados e do etéreo Aldo Rebelo diante do motim perpetrado pelo MLST na terça-feira, na Câmara Federal? Simples: se o governo não respondesse à altura sofreria um desgaste irreparável e ficaria até vulnerável a um impeachment. A presença do abonado líder dos amotinados no Diretório Nacional do PT, a generosa ajuda prestada pelo governo ao MLST e outras provas de conivência/convivência têm enorme peso político, põem em risco a vantagem eleitoral – mesmo no início de uma Copa do Mundo.

E como se explica a tibieza e a emasculação das autoridades diante do crime organizado? Por que a lista dos culpados e cúmplices é imensa, interminável. Nela se inclui o governo federal, o governo paulista, o governo fluminense, o juiz que mandou suspender o bloqueio dos celulares nas regiões onde se localizam alguns presídios, a Mesa Diretora da Câmara Federal que estimula a impunidade dos parlamentares corruptos, etc.

Marcola e Marcinho VP são os verdadeiros donos do poder. Ronaldo, com suas bolhas, sua gripe e uma eventual gordurinha nas bochechas mostrou como se faz uma festa verdadeira.

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