• Carregando...

Como recordou José Lucio Glomb em artigo publicado na Gazeta do Povo, em 3 de outubro, o grande brasileiro Sobral Pinto não tinha preço, sendo um digno representante do melhor que pode haver num ser humano, uma pessoa realmente inesquecível, embora ele, por certo, não ligasse muito para a publicidade – particularmente por saber que honestidade é dever e também por ter a exata noção de que há, graças a Deus, muitos iguais a ele no Brasil. Com certeza são esses os brasileiros honestos que fazem a nação ser mais do que um mero Estado formal e a eles devemos o que fomos, o que somos e o que seremos.

Não venho aqui pedir que o "homem que não tem preço" seja lembrado, porque penso existir outro tipo de homem que, por razões muito mais importantes, não pode ser esquecido: é o "homem que tem preço". Também não vou lembrar-me do vil ladrão que sai pegando maços de dinheiro que podem estar escondidos nas roupas íntimas masculinas ou mesmo nos mais estranhos confins do corpo: para isso basta ver as páginas policiais. Falo de um "homem que tem preço" muito mais sutil, muito mais peculiar: é o que vende a alma!

Mas, também para o nosso Fausto particular, é preciso ainda limitar mais o vil objeto da abordagem: não é qualquer Fausto, mas sim um específico. É aquele que vende a alma porque não honra seus propósitos para obter vantagem (o que é muito importante ter em mente no ano eleitoral que se aproxima).

Este Fausto é um sujeito perigoso. Ele é o carreirista, que sempre está à espreita para tirar uma vantagem: não cumpre promessas, não honra compromissos, despreza mandatos – fazendo pouco daqueles que nele confiaram. Basta um aceno de algo melhor e o esperto indivíduo vai para outros lados e caminhos, pouco importando os compromissos assumidos com amores, pessoas, instituições – o povo em si. Ao aceno da vantagem, corre o cachorrinho atrás do aprazível osso, pouco importando a insegurança deixada na casa que deveria vigiar.

Ele é o personagem que deverá ser inesquecível – sempre. Para ele sobra a lição de Montaigne ao separar a enorme distância entre o falar e o agir: "o verdadeiro espelho dos nossos discursos é o curso das nossas vidas".

Portanto, muito mais que palavras, é necessário analisar com todas as minúcias o que fez o falante antes de falar, evitando que tudo não vire pura falácia de falastrão. Ele, nosso personagem inesquecível.

Manoel José Lacerda Carneiro é ex-presidente do Instituto dos Advogados do Paraná e ex-conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]