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O que vai sobrar da Copa do Mundo e Olimpíada é uma coleção de elefantes brancos e, no caso do futebol, um retrocesso

Nunca ocultei a minha mais absoluta e irrestrita antipatia por essa cartolagem esportiva nacional e mundial que conseguiu que organizações privadas como a Fifa e o Comitê Olímpico Internacional tenham mais poderes do que um Estado membro da ONU. Em nome das duvidosas e custosas honrarias de sediar uma Copa do Mundo e uma Olimpíada, o Brasil está demonstrando ao mundo um padrão de desorganização e de improvisação inacreditáveis que arriscam piorar, em vez de melhorar a imagem do país. Isso me convenceu que Copas do Mundo e Olimpíada são como comprar um iate: é muito melhor ter um amigo que comprou um do que possuir o próprio. O amigo mantém, fornece o combustível e os suprimentos de bordo. E nós só aparecemos na hora do passeio.

E não se venha com essa história das heranças que a Copa vai nos deixar em infraestrutura, pois pelo andar da carruagem, elas serão modestíssimas. Grandes avenidas e sistemas de transportes urbanos iriam ser construídos; já não há tempo hábil para grandes obras, espertamente substituídas por um brasileiríssimo jeitinho salvador: durante os dias de jogos da Copa, serão decretados feriados e com isso o tráfego cairá drasticamente; os aeroportos estão saturados? Já que não há tempo para obras de qualidade, vamos fazer uns puxadinhos provisórios, que têm uma boa chance de virarem permanentes porque, dois anos depois da Copa do Mundo teremos a Olimpíada. Melhoria dos hospitais? É melhor nem falar.

O que vai sobrar desses dois grandes eventos esportivos é uma coleção de elefantes brancos e, no caso do futebol, um retrocesso: depois de se ter proibido o consumo de bebidas alcoólicas dentro dos estádios, uma medida indispensável para reduzir o potencial destrutivo do álcool no trânsito e no incitamento de quebra-quebras e agressões a torcedores adversários, o álcool poderá ser vendido nos jogos porque a Fifa tem uma grande cervejeira como patrocinadora.

O cronista Juca Kfouri prometia tomar chá de cadeira esperando a queda do Ricardo Teixeira. Demorou e o chá esfriou, mas finalmente o Ricardo Teixeira se mandou. Logo, logo, o Juca vai ter de procurar uma rima para José Maria Marín, pois não existe a menor possibilidade de que as coisas melhorem no futebol brasileiro quando seu comandante é flagrado colocando no bolso uma medalha que deveria entregar ao goleiro do time que ganhou a Copa São Paulo de Futebol Junior. Marin explicou que pretendia copiar o modelo para fazer uma medalha para a CBF, que, como é do conhecimento geral, não tem nenhum conhecimento prévio nessas coisas de mandar fazer medalhas e troféus.

O pior é que Ricardo Teixeira ainda ficará na história esportiva como o presidente da CBF que nos trouxe duas Copas do Mundo e seus admiradores e viúvas ainda o considerarão um pobre (sic) injustiçado. Na realidade, o futebol brasileiro, em estado puro, não precisaria nem de técnico, quanto mais de cartolas para ganhar Copas do Mundo, como já demonstrou no passado : em 1958, não tínhamos nem treinador, pois Vicente Feola cochilava durante os treinos. Em 1970, o time das "feras do Saldanha" foi escalado na primeira entrevista do próprio Saldanha, que era cronista esportivo, dois anos antes da Copa. Infelizmente, o futebol perdeu a graça quando virou um negócio bilionário e a Lei do Passe que "escravizava" os atletas aos clubes foi substituída pela escravidão dos atletas e dos clubes aos interesses comerciais e dos patrocinadores.

Sei que o que digo está fora de sintonia com os tempos atuais e que nem o futebol nem os demais esportes são povoados por Madres Terezas de Calcutá. Mas, entre Didi, que fugia das concentrações para ir ver a amada Guiomar ou Gerson, que fumava duas carteiras de cigarros por dia; e as noitadas de Ronaldinho Gaúcho nas boates e no pagode, fico com Didi e Gerson, cujos atos de rebeldia, comparados com os atuais, soam como brincadeiras e molecagens. Em campo, eles esbanjavam talento e inteligência, mercadorias escassas no futebol de muitos pernas de pau folheadas a ouro que vestem a camisa canarinho atualmente.

Belmiro Valverde Jobim Castor, professor do doutorado em Administração da PUCPR.

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