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Teerã, capital do Irã. Imagem ilustrativa.
Teerã, capital do Irã. Imagem ilustrativa.| Foto: TatyanaMH/Bigstock

O novo presidente do Irã, o ultraconservador Ebrahim Raisi, exibiu para o mundo a “Liga dos Terroristas” em sua posse, em 3 de agosto, ao receber uma série de proeminentes líderes terroristas na celebração, uma pequena demonstração de sua política externa. Após eleição com abstenção recorde, Raisi foi eleito ainda no primeiro turno, em 18 de junho, em uma votação também marcada pelo veto a candidaturas de seus principais adversários.

A reunião entre as principais figuras iranianas e a “Liga dos Terroristas” pareceu uma espécie de “Liga da Justiça”, dos quadrinhos e filmes da DC Comics: uma cena hollywoodiana. Não é a primeira vez que isso acontece; o Irã, no passado, recebeu facções palestinas, membros do Hashd al-Shaabi do Iraque, o Hamas, o Hezbollah, houthis e outros. A mensagem aqui é destinada especialmente a Israel, aos Estados Unidos e a seus parceiros e aliados.

Durante o discurso de posse, Raisi condenou as sanções impostas pelos Estados Unidos ao país, figurinha marcada das autoridades iranianas impactadas pelos bloqueios econômicos de Washington. Acusado de abusos dos direitos humanos por diversas organizações internacionais enquanto era juiz, Raisi teria participado de execuções em massa, com mais de 4 mil opositores mortos pelo regime dos aiatolás em 1988.

Imagens da televisão iraniana mostraram o líder do Hamas, Ismail Haniyeh; o vice-líder do Hezbollah, Naim Qassem; o líder da Jihad Islâmica Palestina, Ziyad al-Nakhalah; e o negociador-chefe e porta-voz dos houthi, grupo radical do Iêmen, Mohammad Abdulsalam. Escandalosamente, o vice-diretor de Relações Exteriores da União Europeia, Enrique Mora, também estava presente na celebração. A União Europeia precisa esclarecer qual o interesse de enviar um representante tão importante na posse do novo presidente do Irã, na companhia de líderes assassinos e criminosos que a própria União Europeia considera terroristas. A República Islâmica do Irã financia todos os grupos terroristas mencionados.

Raisi elogiou o Hamas por sua “vitória” no recente conflito de maio. A presença do líder do Hamas e de outros delegados do grupo terrorista não passou incólume para os comentaristas, que notaram sua presença e o tapete vermelho que receberam. O Hamas também recebeu um tapete vermelho do partido governante da Turquia em 2020, e parece ter mais influência na região do que antes. O Irã quer usar mais o Hamas contra Israel. Especialistas observaram que a presença de Haniyeh mostra como o Irã está lançando uma mensagem sobre seu compromisso com o Hamas.

O Irã provavelmente estava por trás de uma recente onda de ataques a Israel em maio. A Guarda Revolucionária Islâmica, próxima de Raisi e da liderança aiatolá, está cada vez mais comandando o Irã e sua política externa. Os presidentes iranianos anteriores deram-lhe uma estrutura formidável para trabalhar em toda a região, e parece que Raisi vai querer aumentar o poder desses grupos terroristas. Isso ocorre quando a mídia iraniana se gaba de novos laços internacionais e também acredita poder contornar as sanções dos EUA. Raisi sucede o moderado Hassan Rohani, que em 2015 conseguiu a assinatura de Barack Obama no tratado nuclear. Assim que assumiu a Casa Branca, Donald Trump abandonou o documento. Raisi será também o provável sucessor do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei. Atualmente, Raisi é um “hoyatoleslam”, cargo inferior ao de aiatolá no clero xiita.

Além disso, Raisi quis mostrar seu interesse na política iraquiana. O Irã cumprimentou uma delegação do Governo Regional do Curdistão com uma bandeira curda, que levantou as sobrancelhas – também foi a saudação dada ao chefe de Hashd al-Shaabi, Faleh al-Fayadh, e também a Ammar Hakim e outras figuras iraquianas, mostrado o real interesse do Irã no Iraque. Al-Fayadh se reuniu com Raisi, e eles parecem ter discutido a pressão contínua contra os EUA no Iraque. Ali Shamkhani, o general iraniano de duas estrelas que é secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, também se reuniu com a delegação iraquiana e pediu a retirada das “forças estrangeiras”, uma referência aos Estados Unidos. Nem sequer está claro se o Irã vê o Iraque atual como um Estado ou como mais um cliente ou área a ser usada para operações contra os Estados Unidos e para o tráfico de mísseis e drones, e uma plataforma para ataques a Israel e à Arábia Saudita. O Irã atacou descaradamente um navio ao largo de Omã em 30 de julho e o Hezbollah, apoiado pelo Irã, disparou foguetes contra Israel em 6 de agosto.

Na celebração de gala, o presidente Raisi, o general Shamkhani e o comandante do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã, major-general Hossein Salami, deixaram uma mensagem bem clara ao mundo, recebendo líderes de milícias e grupos terroristas de toda a região. Uma consolidação unificada que o Irã realiza no Iraque, Síria, Líbano, Iêmen e Afeganistão. Sistematicamente, o Irã usa os Estados enfraquecidos como plataforma de lançamento para operações contra outros países. Oficializa, agora, o “eixo de resistência”, que também é um eixo de instabilidade por meio da aplicação do modelo iraniano.

Lawrence Maximo, professor e escritor, é bacharel em História e Teologia, mestrando em Ciências Políticas: Cooperação Internacional, pós-graduado em Ciência Política: Cidadania e Governação e em Antropologia da Religião, e colaborador da StandWithUs Brasil.

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