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O jornal "Valor Econômico" realizou uma pesquisa com 63 importantes economistas brasileiros para saber quem é o maior economista do país. Venceu Mário Henrique Simonsen, que foi ministro da Fazenda do governo Geisel, professor da Fundação Getúlio Vargas do Rio, grande escritor e consultor permanente de governos e empresas. Curiosamente, a palavra "maior" se escreve com as mesmas letras de "Mário".

Simonsen tinha qualidades muito peculiares. Era considerado um "cientista da economia", pelos profundos conhecimentos de teoria econômica, de matemática avançada e de modelos econométricos, assuntos complexos que ele explicava com enorme clareza e didática. Ele era portador de uma mente multifacetada, cujos conhecimentos iam da música clássica, passando pela filosofia, física, artes, letras e história, até a realidade política de cada país. Era um gênio reconhecido até por seus adversários.

Como economista, Simonsen defendia a liberdade de iniciativa e acreditava na economia de mercado, mas não chegava a ser um liberal clássico. Era defensor da intervenção do governo que, segundo ele, deveria ser moderada. Acreditava que certas obras de infra-estrutura, pelos elevados investimentos e baixo retorno, caberia ao Estado executar, além das funções clássicas de defesa, segurança, justiça, educação, saúde e saneamento. Porém, ele nunca apoiou a intromissão do governo em áreas que podem e devem ser tocadas pela iniciativa privada, sob a égide da competição e da inovação, como telefonia, siderurgia, energia e financeira. Simonsen temia que, a cada aumento de impostos, o governo acabasse por estourar o dinheiro com expansão da máquina pública, empreguismo, privilégios e corrupção, descuidando dos investimentos necessários para suportar o crescimento da produção nacional. Nisso, foi profético. O governo, hoje, é um ente destruído, desmoralizado e ausente dos investimentos em infra-estrutura.

Mário Henrique Simonsen era considerado até por economistas estrangeiros como um dos maiores economistas do mundo. Ele nunca morou no exterior e, talvez por isso, não tenha desfrutado da popularidade internacional obtida por alguns economistas americanos, muito menos brilhantes do que ele. No Departamento de Economia da Universidade de Chicago, uma das mais famosas do mundo, Simonsen era visto como um dos maiores especialistas mundiais em assuntos de moeda e inflação. Quando o presidente Figueiredo, de quem Simonsen foi ministro do Planejamento por poucos meses, mostrou indisposição para apertar os gastos públicos a fim de enfrentar a crise do petróleo e os aumentos dos preços do óleo importado, Simonsen deixou um relatório de advertência e pediu demissão.

A personalidade de Simonsen sempre o levou a mais apontar soluções do que polemizar. Ele não tinha vocação para o embate público com os opositores das suas idéias, mesmo porque ele sabia que a maioria daqueles que se metiam a contestá-lo eram selvagens iletrados em matéria de economia. Ele costumava dizer que admirava Roberto Campos pela disposição deste em explicar o óbvio a críticos famosos pela capacidade de dizer bobagem. Simonsen nunca foi grande mobilizador. Era um cientista e agia como tal. Explicava seus pontos de vista, geralmente bem-fundamentados, e pronto.

A votação entre os 63 economistas consultados deu a Simonsen o título de maior economista e o mais admirado por seus pares, mesmo entre os opositores, e todos são unânimes em reconhecer, nele, o elevadíssimo quociente de inteligência, a capacidade de trabalho, a honestidade e o brilhantismo. Ele morreu vítima dos seus maus hábitos de vida. Totalmente desapegado de coisas materiais, fumava e bebia além do suportável para qualquer corpo humano. Faleceu há 11 anos, com apenas 61 anos de idade, alegre e bem-humorado, produzindo e escrevendo até o último momento.

José Pio Martins é professor de economia e vice-reitor do Centro Universitário Positivo (Unicenp).

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