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Uma universidade pública estadual de porte médio, localizada no interior e que conquista posição destaque chama a atenção. Há sempre a tentativa de explicar o que a levou a este patamar para entender o que a diferenciou de outras mais bem estruturas e com maior tradição.

Com o resultado do Enade/MEC-2007, a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) obteve o melhor desempenho entre as universidades do Paraná e ficou entre as três melhores em nível nacional. O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) avalia, por amostragem, a contribuição do curso na formação dos acadêmicos, com uma avaliação no ingresso e outra na conclusão, para tentar mensurar o que foi acrescido ao estudante em termos de conteúdo geral e específico. É uma ferramenta extremamente importante – não para criar rankings entre instituições, mas para que elas possam rever seus currículos, visando a uma melhor formação. É assim que vemos a função deste exame.

No caso da UEPG, o Enade revelou que as opções feitas ao longo dos últimos anos foram acertadas. Mesmo sendo uma universidade com longa história (o primeiro curso data da década de 50), a instituição passou por profundas reformulações, envolvendo alunos, professores e técnicos – os principais responsáveis pela qualidade de nossos cursos. Estas reformulações foram de ordem principalmente curricular. E o resultado está aparecendo neste processo avaliativo que foca o aluno e não o currículo do professor. Ou seja, a aprendizagem efetivada e não a capacidade de gerar conhecimentos. Os cursos avaliados (Agronomia, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Odontologia, Serviço Social e Zootecnia) receberam conceitos ótimos (4) ou excelentes (5) nesta edição do Enade.

Desde que foi implantado o Enade, em 2004, todos os cursos da UEPG avaliados receberam, no mínimo, conceito 3 (bom). Ao todo, nove cursos ficaram com conceito 3, quatorze com conceito 4 e sete com conceito 5. Destacaram-se nas avaliações os cursos de Agronomia, Direito, Farmácia, Jornalismo, Odontologia, Pedagogia e Turismo, que obtiveram o conceito máximo. Alguns destes cursos estão entre os melhores do Brasil.

Muitos nos indagam: qual a razão de uma universidade de médio porte atingir a excelência? Podemos destacar alguns fatores. A UEPG priorizou a qualificação do corpo docente, e hoje tem quase 90% dos professores com a titulação de mestres ou doutores. Esses professores têm se dedicado à pesquisa, produzindo projetos que captam recursos em órgãos de fomento em várias esferas, dinamizando as atividades de pesquisa da instituição, com o envolvimento efetivo de alunos e funcionários.

Há, por isso, grande participação de nossos acadêmicos em atividades fora da sala de aula, em projetos de pesquisas, de extensão e outras atividades, e isso de forma integrada, permitindo uma interação entre o saber técnico-científico e as realidades sociais.

Houve também a implantação, nos últimos anos, dos programas de pós-graduação stricto sensu, sem que houvesse afastamento dos professores das atividades na graduação. Ao contrário, promovemos um diálogo entre graduação e pós-graduação, de tal forma que as conquistas de um grupo se reflitam nas do outro. Parece-me que o não-distanciamento entre pesquisa e extensão, entre graduação e pós, por conta do ingresso mais tardio na pesquisa e na pós-graduação, é o principal fator do sucesso. Quando se organizou a pesquisa e a pós-graduação, pôde-se planejar uma melhoria não apenas destas áreas, mas do todo. Mesmo fazendo pesquisa de ponta, ofertando pós-graduação e participando de projetos com outras instituições, os professores da UEPG não se desvinculam nunca da graduação, que é a atividade primeira, e maior, das universidades. Tudo aqui converge para ela.

É preciso ainda dizer que houve continuidade de investimentos do governo do estado, que, somados aos recursos obtidos por projetos de nossos professores em órgãos de fomentos, vêm dando condições à estruturação das várias áreas da universidade.

Mas há ainda um elemento que contribuiu bastante para o resultado: a gestão responsável. A UEPG tem dimensões administráveis, sendo possível para os gestores conhecer efetivamente os diversos setores, o que é fundamental para se buscar uma visão mais integrada do desenvolvimento institucional. Este espírito administrativo, que não se descuida do todo, evitando que se criem visões isoladas e isolacionistas na formação acadêmica, faz com que instituições de porte médio possam se destacar.

Nossas expectativas são as de que a UEPG continue se desenvolvendo na pesquisa e na pós-graduação (muito ainda temos para trilhar) sem nunca perder de vista a graduação e sempre se valendo da extensão como valioso instrumento de orientação. É pela extensão, tradicionalmente muito forte na UEPG, que podemos nos aproximar da realidade nacional, atendendo às demandas contemporâneas.

Mesmo não estando entre as principais instituições de pesquisa e de pós-graduação do Brasil, a UEPG conquistou esse destaque por ter todo o quadro docente atuando ativamente a partir da graduação. Este talvez seja o nosso principal diferencial.

João Carlos Gomes é doutor pela Unesp e professor de Odontologia. Ocupa o cargo de reitor da UEPG e a Presidência da Associação Brasileira de Reitores das Universidades Estaduais e Municipais (Abruem).

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