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Os volumes monetários de ajuda destinados ao Haiti já superam outros desastres naturais, como o tsunami na Ásia e o furacão Katrina. As imagens da devastação no Haiti chocam o mundo e sensibilizam. Além disso, as facilidades tecnológicas também favorecem a aceleração da arrecadação dessas contribuições.

A falta de infraestrutura e condições internas no Haiti criam impedimentos para que essa ajuda realmente tenha o impacto desejado e chegue àqueles que necessitam. Por isso, vê-se no noticiário os saques e uma população andarilha, faminta e sem rumo. Assim, colocam-se questões importantes neste momento sobre o que será do país depois da catástrofe. Como a comunidade internacional irá ajudar esta população tão sofrida? Quais serão os rumos a serem ditados para esta sociedade?

O envolvimento de mais de 30 países na busca aos sobreviventes é um indicador relevante do alcance da participação da comunidade internacional, que também traz novos desafios para a coordenação da missão de paz no Haiti. No entanto, as baixas humanas poderão trazer custos inestimáveis para a operação de paz, já que a ONU teve grandes perdas.

O Brasil provavelmente continuará com o comando da missão, mas necessitará de uma maior contribuição dos demais países. Por isso, a proposta de um conferência entre os países doadores é um sinal positivo que indicará quais os passos a serem dados após a fase emergencial.

A mobilização do governo Obama é outro sinal positivo, demonstrando sensibilidade e grande capacidade de ação. No entanto, o histórico de intervenção dos Estados Unidos no país sempre traz suspeitas de como seria esta participação. Por outro lado, estima-se que vivem nos Estados Unidos mais de 800 mil imigrantes haitianos (muitos ilegais) e 50 mil americanos encontram-se no Haiti. Esses números indicam a importância do país na agenda norte-americana, além disso, sempre existe a possibilidade de uma imigração maior de haitianos para os Estados Unidos.

Se de um lado a participação norte-americana é importante, por outro, colocam-se dúvidas sobre como será a relação entre as forças militares norte-americanas e os capacetes-azuis. A falta de coordenação e unilateralismo norte-americano seriam prejudiciais para o socorro às vítimas, como também traria maiores dificuldades à condução da operação de paz e a reconstrução do país.

Uma ação multilateral é a maior força para a construção do Haiti e também poderia significar uma vitória para a diplomacia "smart power" (poder inteligente) do governo Obama, indicando realmente uma mudança de ação dos Estados Unidos. As primeiras ações de controle do aeroporto demonstram um unilateralismo norte-americano, mas essa postura pode ser apenas um reflexo de um momento de caos no país e de caráter emergencial. Deve-se aguardar o desenvolvimento do processo e também os resultados do debate entre os doadores e os envolvidos na missão no Haiti.

O povo haitiano não merece mais sofrimento e espera-se que a comunidade internacional consiga colocar o país em uma rota de desenvolvimento e superação deste desastre. A via multilateral poderá trazer mais efetividade, principalmente considerando que os resultados alcançados pela Minustah indicavam, apesar dos desafios, que o país estava caminhando para a pacificação. Garantir esse processo é um dever da comunidade internacional, e o Brasil terá um papel relevante como comandante da operação de paz.

Denilde Holzhacker, doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, é professora de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco

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