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Wiston Churchill, primeiro ministro inglês, o mesmo que motivou os ingleses na Segunda Guerra Mundial a lutar com "sangue, suor e lágrimas", também fez uma afirmação que pode parecer incompreensível em momentos em que o lema em voga é o de se fazer aliança até com Judas (traidor) se for necessário. Dizia ele: "Se cada cidadão apenas cumprir o seu dever, teremos arruinado o mundo". Referia-se ao "dever" no sentido estrito, como uma desculpa para não ir mais além, isto é, para não dar o melhor de si. O ideal humano sempre esteve ligado a ideia de "extrair o melhor de si mesmo".

A mediocridade se contrapõe à magnanimidade. Aquela faz a pessoa calculista e mesquinha, esta produz grandeza de alma, tornando a pessoa capaz de metas altas, fazendo-a não se contentar com limites egoístas e, sobretudo, exceder-se no cumprimento dos deveres. As questões formuladas nas pesquisas em escolas e empresas esbarram com a resistência às mudanças. Mudar exige perder domínios de poder, modificar hábitos, aprender coisas novas e experimentar a insegurança da inovação. O medo da mudança aparece por uma questão emocional. Quem se deixa dominar por ele, não tem expectativas e muito menos esperanças. Vive de queixas e não se propõe a desenvolver novos projetos. O que faz perde sentido e significado e é realizado de má vontade.

Numa situação sem esperança e sem motivação, as portas da alma se abrem à mediocridade. Faz-se o comum, o dever de cada dia, de qualquer jeito. O medíocre contenta-se com o ideal do que todo mundo faz. Norteia-se pelas médias.

Em estudo recente, identificaram-se quatro tipos de cultura de empresas que influenciam o comportamento dos seus membros. Nesta tipologia encontram-se as organizações paternalistas, as burocráticas, as agressivas e as competentes. A cada uma delas associam-se duas possíveis variáveis: a unidade e os resultados da empresa. As paternalistas são as que nutrem uma unidade interna de compadres com resultados ridículos. As burocráticas são "zero à esquerda" em unidade interna e ao mesmo tempo têm resultados medíocres. As agressivas arrancam para o primeiro lugar à custa de corromper a unidade, ficando desgastadas por relegar as pessoas ao segundo plano. Neste estudo, Pablo Cardona apresenta como ideal a organização competente, que consegue aliar os resultados sem danificar a unidade dos colaboradores, mas antes promovendo o crescimento progressivo da confiança mútua e do comprometimento das pessoas em relação à missão da empresa.

Nas instituições paternalistas e burocráticas, complacentes e resistentes às mudanças, instala-se entre um pacto de mediocridade entre os integrantes. Trata-se de um acordo tácito para driblar a necessidade de alterar processos de trabalho, metas e objetivos. Este comportamento parece raro; no entanto, é bastante comum. Os estudos, tanto em instituições de ensino como em empresas comerciais, revelam que há muito espaço para transformação, porquanto lideram o ranking da ineficácia as empresas burocráticas e paternalistas. Por vezes o ambiente de desmotivação no trabalho se avulta e paralisa as pessoas.

Comprova-se nas escolas públicas que é dominante a cultura burocrática, pois não há forma de se premiar o mérito do educador inovador e dedicado. É dramático o clamor dos professores sérios e competentes por mudanças substanciais no modo como são geridas estas escolas. São condicionados ao desestímulo mesmo os ótimos profissionais, vocacionados para a área educativa, porque o sistema estimula o pacto de mediocridade.

Uma diretora de escola ouviu na sala dos professores: "bem, eu vou dar a minha aulinha de cinco tostões". Ao ouvir isto, disse sem duvidar, "a senhora pode ir para casa que hoje eu dou as aulas, porque não é assim que se trata os alunos, eles nada têm a ver com seu problema".

O pacto de mediocridade se propaga pelo descaso e não há desculpas para deixar-se levar por ele; se não se dá o melhor de si, o círculo vicioso se propaga.

Ortega y Gasset destacava: "Se um país for politicamente vil, será em vão esperar qualquer coisa da sua escola mais perfeita". Mas o pacto de mediocridade não é imutável. A mudança exige por-se em forma. Pode-se pensar de acordo com o filósofo que disse: "Uma geração em forma pode realizar aquilo que os séculos sem forma não puderam alcançar".

Está ao alcance de cada um dar o melhor de si para que se quebre coletivamente o pacto da mediocridade.

Paulo Sertek, doutor em Educação pela UFPR, é autor de Responsabilidade Social e Competência Interpessoal, Empreendedorismo e Administração e Planejamento Estratégico. paulo-sertek@uol.com.br

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