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 | Henry Milleo/Gazeta do Povo
| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Assistimos, país afora, acenos ao autoritarismo de alguns setores da sociedade expressando certo saudosismo do tempo dos militares. Há que se reconhecer que o regime dos generais presidentes deixou como legado uma grande infraestrutura em rodovias, hidroelétricas, telecomunicações, portos e aeroportos, olvidando, no entanto, o chamado investimento social, na expectativa de que o processo de competição do capitalismo resolvesse por si só esta questão.

Grandes mobilizações levaram ao esgotamento desse período e o comando da nação foi devolvido a governantes escolhidos pelo voto.

O que se viu ao longo de mais de três décadas é que a experiência democrática também teve suas mazelas. O país não conseguiu dar o salto para o futuro que se esperava, oportunistas tomaram de assalto o Estado, a política virou um balcão de negócios e a corrupção assumiu proporções gigantescas.

Não à toa, pesquisas de opinião pública mostram que parcela expressiva da população manifesta sua tendência a apoiar propostas com viés autoritário. A triste constatação é que, para parte dos brasileiros, equivocadamente, o Brasil não está preparado para a democracia. De acordo com a pesquisa Índice de Propensão ao apoio a Posições Autoritárias do Forum Brasileiro de Segurança Pública, numa escala de 0 a 10, o índice de apoio a posições autoritárias no Brasil chega a 8,1.

Vivemos certa corrupção dos costumes, uma permissividade geral que assusta o cidadão

Por que isso? A principal razão foi a constatação de que em dois terços do chamado período democrático os governos de esquerda ou centro-esquerda, com amplo discurso social, não atenderam demandas importantes da sociedade brasileira, como na questão da segurança pública. O brasileiro hoje se sente abandonado pelas autoridades enquanto o banditismo campeia pelas ruas impunemente. Perdeu-se o respeito à vida, com criminosos saqueando à luz do dia, explodindo bancos, roubando nas esquinas, matando por míseros trocados.

De dentro dos presídios, criminosos ordenam fuzilamentos, represálias às forças públicas, ordenam a queima de veículos e ônibus. Boa parte destes crimes são praticados por menores, protegidos por leis absurdas. O tráfico de drogas contamina pequenas cidades e grandes metrópoles. A impunidade é a marca do país.

Vivemos certa corrupção dos costumes, uma permissividade geral que assusta o cidadão. Um exemplo está em nosso atrasado sistema de ensino. Multiplicam-se as escolas que não educam e os professores que não lecionam. Alunos chegam às universidades sem saber a tabuada, desconhecendo a história do Brasil ou um mínimo de sua geografia.

O país tornou-se refém dos direitos dos cidadãos, e nada de deveres. Ninguém deve nada ao país, nem respeito às leis, aos mais velhos, aos empreendedores que geram a riqueza. É o país da colheita, mesmo que não haja plantio. A desordem está em todo canto, sem respeito às regras de civilidade. Se uma comunidade é mal atendida, bloqueia rodovias, provoca longos congestionamentos, desconforto, prejuízos incalculáveis sem qualquer respeito ao direito do outro.

Leia também: O que os presidenciáveis não debatem (artigo de Fabrício Zanini, publicado em 28 de agosto de 2018)

Leia também: Consenso desafiado (editorial de 12 de agosto de 2018)

É óbvio que esse caos social afeta a economia, que por anos tem crescimento pífio. Há um preocupante êxodo de brasileiros para outras plagas na busca de trabalho digno e segurança. A fuga de capital para paraísos fiscais ou para investimentos em países mais confiáveis é incalculável.

Em meio a tudo isso, descobre-se o óbvio. A classe política está, em parte corrompida em razão de um processo eleitoral perverso e típico de país atrasado, onde praticamente só se elegem quem já tem poder ou muito dinheiro. Daí para o desvio de recursos públicos é um passo pequeno.

Em meio a este caldo chegamos às eleições de 2018 com uma preocupante rejeição aos políticos, como se fosse possível um país existir sem eles. A perspectiva de saídas radicais, tanto à esquerda como à direita, nos leva a um impasse e incertezas sobre os rumos que o país tomará a partir de 2019.

Não veem os menos radicais que o próximo presidente terá de ser alguém equilibrado, experiente, sem ranço extremista, afeito ao diálogo, porém firme no exercício da autoridade e corajoso, que saiba negociar com o Congresso a aprovação de medidas impopulares, mas necessárias para salvar o país. Um político sim, que não criminaliza os chamados centristas, pois é possível que ali estejam os que vão decidir na Câmara Federal e no Senado, o futuro do país.

Deixemos de lado o aceno ao radicalismo. Nosso rumo deve seguir o caminho do meio. Este milenar conceito budista nos ensina que em nossa vida pessoal devemos prezar pela moderação e evitar os extremos, uma ideia que vale também para as responsabilidades de cada um em relação ao país.

Edson José Ramon, empresário, é presidente do Instituto Democracia e Liberdade (IDL) e ex-presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP).
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