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O artigo Geologia Política (título sugestivo), de autoria do jornalista Alberto Dines, publicado na Gazeta do Povo de 13/1/2007, estimula a reflexão sobre o significado de dois conceitos que o autor usa em sua argumentação: estabilidade e caudilho irresponsável.

A partir de uma inteligente frase de ocasião do presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli – "petróleo não dá em país calmo" –, Dines sinaliza um possível lapso de Gabrielli na formulação da sentença, para na seqüência teorizar sobre os conceitos que me despertaram a atenção. Deixando de lado o eventual lapso de Gabrielli, sobre o qual tecer interpretações freudianas levaria boas horas, permito-me comentar algumas das outras considerações apresentadas pelo jornalista.

Para se contrapor a Gabrielli, Dines cita o Brasil como país produtor de petróleo e estável. Primeiro, há que se ressaltar que nem Brasil nem a Noruega têm a produção e o potencial da Venezuela, da Bolívia ou dos países árabes aos quais se refere Gabrielli. Mais, qualquer decisão que o Brasil ou a Noruega tomem em relação ao petróleo passará quase totalmente despercebida pelo mercado internacional. Portanto, a comparação soa um pouco provinciana. Em segundo lugar, se considerarmos os últimos 50 anos, o Brasil é um dos países com maior instabilidade econômica e jurídica do mundo. É só lembrar o número de anos com governos que romperam com o Estado de direito e mudaram legislações ou os fantásticos índices de inflação e juros para perceber que não é a estabilidade o que caracteriza o Brasil no cenário internacional.

Tampouco podemos incluir nesse conceito de estabilidade e produtor de petróleo os países da Península Arábica e o Texas. No dia 11 de setembro de 2001, aparentemente, um grupo de militantes de uma organização chamada Al Qaeda seqüestrou aviões de linha e os explodiu contra alvos americanos considerados "símbolos estratégicos". A história que leva àquele evento é problemática (Michael Moore, produtor de tevê americano tentou desenvolver algo a respeito disso), mas partir dele deu-se início a uma série de confrontos que estão longe de um fim. O líder de um lado é do Texas, o outro da Península Arábica. Seria isso uma estabilidade?

Por outro lado, a relação do termo "caudilho irresponsável" com o presidente russo, Vladimir Putin, é totalmente pertinente. A ele, no entanto, podemos juntar dois outros exemplos emblemáticos de "caudilhos irresponsáveis" cujos atos geram efeitos que nos atingem a vida cotidiana. Um é do Texas e o outro de Edimburgo. Ambos levaram seus próprios países e o mundo a uma aventura suicida da qual não sabem como sair, quebraram todos os acordos de direito internacional, desrespeitaram todas as normas de diplomacia internacional e ainda propiciaram crimes contra a humanidade. Não sou eu que julgo isto, senão Kofi Annan (ex-secretário-geral das Nações Unidas), o juiz federal americano Thomas F. Hogan, os advogados da União de Liberdades Civis dos Estados Unidos e a senhora Nancy Pelosi, atual presidente do Congresso americano. Texas e Edimburgo produzem caudilhos irresponsáveis que tomam medidas populistas e desestabilizadoras sem ver as conseqüências. Hoje os consumidores americanos pagam caro, muito caro, o preço do combustível dos seus carros e pagarão mais caro ainda pelo déficit no qual o caudilho comprometeu o futuro do país (a dívida externa dos EUA representa hoje entre 65% e 70% do PIB), este último julgamento também não me pertence, é do financista George Soros que prevê o colapso do dólar.

Entendo, assim, que uma análise da frase, ou do lapso, de Gabrielli deveria também levar em conta aquilo "não dito" no artigo do Dines. Mas concordo com ele: "a humanidade não pretende imolar-se na fogueira dos delírios políticos".

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