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A crise financeira internacional, que teve inicio no mercado imobiliário norte-americano, encontrou seu ponto mais profundo no final de 2008 e início de 2009, quando vários países desenvolvidos e em desenvolvimento atravessavam períodos de crescimento econômico negativo. Várias medidas de política econômica foram tomadas para que a crise mundial não se tornasse ainda mais severa, como redução das taxas de juros, elevação dos gastos e redução de receitas por parte dos governos das mais variadas economias.

Essas medidas foram, em geral, na direção correta, pois seus efeitos foram positivos na maior parte das economias do globo. Adicionalmente, estas tiveram um sustentáculo oriundo do forte crescimento dos emergentes, com especial ênfase ao desempenho da economia chinesa. Vários países mostraram sinais de recuperação como, por exemplo, Japão, França, Alemanha e Espanha, já no segundo trimestre de 2009. A zona do euro e os países da região comemoraram o fim da recessão no primeiro semestre de 2010, ao apresentarem um crescimento positivo de 0,2%.

Enfim, parecia que a economia mundial entraria novamente em uma rota de crescimen­­to consistente, embora com recuperação lenta. No entanto, as relações entre as variáveis econômicas são muito complexas e, muitas vezes, difíceis de serem interpretadas em sua totalidade, sem falar na previsão das mesmas.

O agravamento de um desequilíbrio nas fi­­nanças públicas gregas, que já existia anteriormente à crise, expôs a fragilidade em que a economia mundial ainda se encontra. A ação conjunta e rápida da comunidade europeia e do FMI impedirá um efeito de contágio para as demais economias europeias e do mundo. Entretanto, mais ajuda financeira significa elevação do déficit em países que já se encontram com problemas em seus respectivos orçamentos.

Caso outro país apresente problemas semelhantes ao da Grécia, como Portugal ou Espanha, será mais difícil evitar o efeito contágio e escapar de uma nova crise. Se isso ocorrer, as consequências seriam bem piores do que a da última crise porque os países se encontram com dívidas públicas muito maiores. Além disso, o nível da taxa de juros já é muito baixo em, praticamente, todas as economias do globo. Desse modo, existe uma limitação muito grande para a utilização de instrumentos de política econômica de forma a impedir um efeito contágio e uma profunda recessão na economia global.

Adicionalmente, o efeito contágio é muito mais provável pelo próprio fato das economias estarem mais fragilizadas. Por exemplo, uma crise em Portugal se espalharia para os demais países da zona do euro com muita mais facilidade, o que, por sua vez, afetaria o sistema bancário norte-americano, com efeitos devastadores sobre a economia real daquele país. Por esse raciocínio, já dá para imaginar o resto da história.

Agora é o momento dos gestores de política econômica serem ainda mais pragmáticos e agirem no sentido de impedir que qualquer economia possa entrar em uma recessão até o ponto em que o crescimento dos principais países da economia mundial seja sólido suficiente para que eles não sejam abalados por instabilidades que são normais.

Em relação ao Brasil, talvez não fosse o melhor momento para iniciar um novo ciclo de elevação da taxa de juros, pois o seu crescimento tem um papel importante na recuperação da economia mundial, além de que uma nova crise mundial também teria impactos severos aqui. Um pouco mais de inflação é um problema muito pequeno em um momento em que toda a economia mundial está tão fragilizada e precisando de todo apoio possível.

Luciano Nakabashi, doutor em Economia, é professor do Departamento de Economia da UFPR e coordenador do boletim de Economia & Tecnologia. luciano.nakabashi@gmail.com

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