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As eleições estão na reta final e, mais do que nunca, é preciso rever propostas, currículos, histórias e, por que não?,discursos. Quando analisado com detalhe, o que os candidatos falam e escrevem tem muito a dizer sobre suas personalidades como governantes.

É comum, por exemplo, perceber o quanto algumas palavras de efeito são utilizadas para refletir inúmeras ideias diferentes. Nesta campanha, tanto regional quanto federal, ficou evidente a repetição excessiva de vocábulos como "mudança", "segurança", "avanço". Além de serem palavras já consideradas chavões na política, há, ainda, outro problema: a relação vaga que estabelecem com uma determinada ideia, já que são pouco palpáveis e incansavelmente repetidas, o que lhes reforça o vazio ideológico. Isso também acontece com determinados verbos: renovar, mudar (mais uma vez), trocar. Quando se fala em renovar a política, o verbo é praticamente açoitado, tendo em vista a situação partidária desta eleição (e de todas as outras).

Outra questão importante é perceber incoerências – uma das análises que mais confere poder de escolha ao eleitor. Ser coerente é estabelecer lógica, dar base de sentido ao que se fala. O discurso incoerente pode ser fácil de perceber quando se vê, por exemplo, a defesa de direitos humanos em um plano de governo que não preveja políticas inclusivas para o público LGBT, por exemplo. No entanto, sua percepção pode ser mais difícil à medida que os temas se tornem mais complexos, como as questões econômicas ou ligadas à tecnologia. Para conseguir distinguir quem tem fundamento no que diz e quem não tem, é preciso fazer um pequeno teste de paciência: ler atentamente as propostas de governo.

De grande valia é a matéria da Gazeta do Povo publicada em 21 de setembro, que mostra o quão acessíveis são hoje as informações de cada candidatura. O que falta, atualmente, ao eleitor, não é acesso, mas paciência. No entanto, a análise do discurso de cada candidato só se consegue dessa forma.

Outro ponto interessante a ser ressaltado nestas eleições é o uso da linguagem paralinguística ou linguagem não verbal. Muitas informações podem ser encontradas na postura, na maneira de falar, nos gestos, na forma de olhar. As mensagens mais importantes muitas vezes não estão nas palavras, mas no que está por trás delas. O uso das mãos, por exemplo, pode indicar autoritarismo ou benevolência. Quem fala com a palma das mãos sempre para baixo tende a ser uma figura autoritária. Já quem procura manter a mão espalmada para cima reflete uma personalidade mais humana e conciliadora.

O olhar também é fundamental nessa análise, bem como o uso das sobrancelhas. Olhar de cima para baixo pode significar excesso de superioridade, assim como o seu desvio, a falsidade. As sobrancelhas erguidas podem indicar assombro, falta de segurança ou ainda dúvida.

Logicamente, esses são elementos complementares a uma pesquisa muito mais ampla que deve ser feita para escolher um candidato. Mas a história já nos mostrou que discursos – ainda que vazios e até mesmo falsos –, quando bem elaborados, podem eleger políticos demagogos, descompromissados e até mesmo sanguinários. Discursos podem acabar com democracias. As palavras – e suas entrelinhas – têm mais força do que se imagina.

Ana Mira é diretora-executiva da consultoria em língua portuguesa Toda Letra.

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