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O que você diria se um narrador de uma prova de maratona a narrasse da mesma forma que uma corrida de 100 metros? Pois é exatamente isso que vem fazendo a maior parte da mídia que cobre a corrida presidencial americana.

A largada de Donald Trump foi há mais de um ano, quando ele abalou o mundo com sua improvável candidatura. Embalado por um discurso politicamente incorreto, ele retirava de baixo do tapete temas até então proibidos, mas aparecia com apenas 5% das intenções de votos nas primárias, disputando a nomeação com 16 políticos renomados. Era, portanto, um azarão coberto pela imprensa americana progressista com um misto de ridículo e indignação. Já os mais à direita o atacavam por não considerá-lo um conservador legítimo. No mundo do entretenimento, humoristas em êxtase sacavam seu estoque de piadas mais impiedosas, enquanto celebridades engajadas ameaçam deixar o país caso fosse eleito. Mídias sociais adoraram o personagem e o mundo viveu uma avalanche de “Trump memes”. Logo tornou-se impossível ligar a TV, abrir o jornal ou entrar em seu Twitter/Facebook sem ouvir falar de Donald J. Trump.

Em um mês, Trump contrariou todos os prognósticos e assumiu a liderança nas pesquisas para a nomeação. A cada discurso, a imprensa reagia de forma mais escandalizada e sepultava definitivamente sua candidatura, acusando-o de ter “cruzado a linha”. Mas as sondagens teimavam em mostrar seu crescimento. O establishment do Partido Republicano ameaçou então barrá-lo no “tapetão”. Não deu certo, e há pouco mais de duas semanas Donald Trump se confirmou como o candidato do Partido Republicano.

Em um pouco mais de uma semana, aos olhos da mídia, Donald Trump passou de vencedor inevitável a alguém que deveria desistir da disputa

Na mesma semana as pesquisas nacionais começaram a mostrá-lo à frente de Hillary Clinton, por até 7 pontos. Foi um chororô generalizado e apocalíptico. Analistas esquerdistas apareciam cabisbaixos e desolados dando como certa a vitória de Trump. Até mesmo o diretor de “documentários” (sic) Michael Moore escreveu sobre a inexorável vitória de Trump.

Na semana seguinte, veio a convenção democrata, com uma grande cobertura favorável a Clinton. Por sua vez, o republicano passou a enfrentar uma série de problemas internos e brigas com o establishment do próprio partido. Hillary disparou nas pesquisas e chegou a alcançar até 10 pontos de vantagem – uma variação que indicaria a mudança de cerca de 20 milhões de votos. Começou uma campanha, com participação até do presidente Obama, para que Trump desistisse da disputa. Em um pouco mais de uma semana, aos olhos da mídia, Donald Trump passou de vencedor inevitável a alguém que deveria desistir da disputa.

Trump não desistirá, não é seu perfil e nem tem porquê. Ainda faltam três meses para as eleições. Os debates não começaram e os anúncios de TV ainda não se intensificaram. Nos próximos meses ambas as campanhas terão altos e baixos e, atualmente, é impossível prever quem será eleito. Mas, enquanto analistas políticos continuarem a cobrir a disputa como se fossem o Galvão Bueno, vão continuar passando a mesma vergonha do narrador.

Paulo Figueiredo Filho é empresário, economista e diretor do Instituto Liberal
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