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O jogo de empurra entre os três poderes, com jeito de terminar em empate com o novo escândalo da roubalheira investigado pela Operação Navalha da Polícia Federal pode não ser o maior de todos os tempos, mas é o que mais amplamente expõe a endêmica falta de vergonha que assola o Congresso.

É desqualificante a apelação ao coro das escusas oficiais que ignora a gravidade alarmante da podridão que corrói a administração pública para jogar a culpa no passado ou, mais exatamente, nos oitos anos do mandato bisado do presidente Fernando Henrique Cardoso e esquivar-se com o subterfúgio que "o governo não rouba nem deixa roubar" e estimula a apuração.

O Judiciário agiria com sensatez e objetividade se colocasse a toga de molho e partisse para a cobrança pública e enérgica ao Legislativo da reforma de códigos notoriamente defasados. Cerimônias, excesso de zelo, o respeito à autonomia do Congresso não pode engessar o Supremo Tribunal Federal (STF) diante da ameaça de crise institucional cada vez mais próxima e sem saída. Por conta própria, os parlamentares não se mexem. Não têm tempo na semana de três dias úteis, com tantos interesses pessoais a cuidar.

Do Executivo pouco se pode esperar enquanto a onda da desmoralização que varre o país não salpicar nos índices de popularidade do maior presidente de todos os tempos. Mãos lavadas nem precisam ser enxutas: os outros que apurem os saques ao cofre da Viúva, pois sempre sobra algum para iniciar as obras do PAC.

Realmente o que causa espanto é a insensibilidade do Congresso, centro do escândalo, o mais atingido pela podridão que mancha vários parlamentares; pela patuscada das CPIs que dão em nada, com a absolvição em massa da borra dos acusados que não escapam pela malha grossa.

A sociedade puxou o badalo do alarme com o desmoralizante índice de 1,1% de confiança na massa falida da recente pesquisa. Como a eleição para a renovação dos mandatos está longe, há tempo para continuar na gandaia antes de pensar no voto. Depois, o povo acaba votando no embalo da indiferença e enxágua a alma despejando milhares de votos em candidatos emporcalhados por notórias falcatruas ou tipos que se destacam pela excentricidade e o grotesco.

Está passando a hora de cair na realidade, com os cuidados para não fraturar o pescoço e enfrentar o desafio na sua contundente objetividade. É preciso cortar na carne e não apenas esticar as pelancas. Nem o bisturi mágico de Ivo Pitanguy transformaria o monstrengo em gente com cara respeitável.

Antes de ir adiante, as lideranças parlamentares e seus satélites necessitam dar uma meia-trave nas recorrentes desconversas sobre a reforma político-eleitoral e aterrar na escala das prioridades.

O financiamento público de campanha fecha algumas gavetas generosas na barganha do apoio sonante por favores sabidos.

Tal como a fidelidade partidária, mesinha recomendável para o troca-troca de partidos nos acertos para compor a maioria partidária de apoio do sonho de todo governo. E muitos outros remendos para esconder os fundilhos rotos,

Mas, quem quiser ir à raiz da crise para extirpá-la não terá como escapulir da realidade que salta aos olhos: o Poder Legislativo vem perdendo a credibilidade e o respeito do país desde que reduziu ao mínimo a rotina de trabalho. A extravagância clama aos céus: três dias semanais de sessões com quorum; o privilégio de não morar no local de trabalho e passar o fim de semana na sua base eleitoral, com passagens aéreas pagas e mais a indecorosa verba indenizatória de R$ 15 mil mensais para ressarcir as despesas das folgas, as exorbitantes verbas de gabinete e demais miçangas da malandragem.

A sarna é contagiosa. Pega e pode matar o doente.

Villas-Bôas Corrêa é analista político.

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