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Há estatísticas que apontam que a taxa de insucesso da primeira profissionalização de uma empresa familiar é de mais de 50%. A saída de um executivo de fora da família controladora após um curto período de tempo é tão comum que muitos profissionais preferem não concorrer a uma vaga nesse tipo de ambiente. Mas existem alternativas para mitigar os riscos da primeira investida em um profissional de mercado? A resposta é sim e demanda muito comprometimento por parte da família controladora.

O projeto de trazer um novo executivo para comandar a empresa deve ter início muito antes da chegada dele. É necessário um trabalho de preparação da família e do fundador, para que se acerte efetivamente o que buscar com esse passo. Em geral, o processo é marcado por conversas duras, que podem ser intermediadas por consultores externos, para mapear e esclarecer o momento da empresa e o desejo da família, suas expectativas com relação ao profissional, os apegos que precisam ser trabalhados para que ele possa ter seu espaço para liderar. Deve-se deixar claro se é vontade da família poder afastar-se completamente do negócio ou se parte da família continuará presente na organização.

É necessário um trabalho de preparação da família e do fundador

Essas reflexões são necessárias para determinar aspectos do perfil de executivo que será trazido para a empresa. Por exemplo, se a decisão da família for de permanecer presente na operação por meio de seus herdeiros, pode ser desejável que o profissional tenha um perfil de mentor, que possa assistir esses herdeiros em sua formação, visando a que assumam o negócio no médio ou longo prazo. Ou, ainda, o grau de resiliência necessário para negociar decisões com a família e mesmo subordinados, que tinham a expectativa de sentar na cadeira que o profissional veio a ocupar.

Uma vez que haja um primeiro alinhamento de expectativas, a forma como o processo de busca e seleção será conduzido é também importante. Idealmente, deve começar dentro da empresa. O mapeamento de potenciais sucessores entre os atuais colaboradores é uma importante mensagem para toda a organização, e um facilitador em termos de maior segurança no alinhamento do profissional com a cultura e os valores da empresa.

Se a opção for por um profissional externo, de mercado, a boa composição do perfil, com todos os aspectos objetivos e subjetivos, deve respeitar o tempo do processo de busca. Ou seja, se a família requerer muitas conversas com os candidatos finalistas ou a avaliação destes por diferentes pessoas em ocasiões diferentes, assim deve ser feito. O conforto no nome escolhido é um dos principais fatores para que ele ingresse na empresa com o voto de confiança dos controladores e possa mais facilmente navegar em todos os outros desafios que lhe serão apresentados. A simpatia e até o afeto pela pessoa escolhida para tocar o negócio é um fator chave para que a aceitação das decisões que serão tomadas transcorra de forma mais harmoniosa.

Outra ferramenta importante é a adoção das práticas de governança corporativa, que auxiliam a formatar o ambiente corporativo, deixando papéis e responsabilidades definidos e documentados, determinando alçadas de decisão interna, e que culminam no estabelecimento de um Conselho Consultivo ou de Administração. A existência de um conselho com membros independentes é importante para acompanhar o dia a dia da diretoria executiva, garantir que suas ações e decisões estejam alinhadas com os valores tradicionais da família, enquanto paralelamente não se perde de vista os objetivos de longo prazo do negócio. A dinâmica bem estabelecida do conselho e a influência de conselheiros independentes facilitará a concentração da família na estratégia e em objetivos de longo prazo, deixando espaço para que o executivo escolhido implemente as deliberações e trabalhe efetivamente na execução e obtenção de resultados.

Fazer da primeira profissionalização um investimento bem sucedido é um desafio para controladores e acionistas. Apesar dos obstáculos, este projeto não deve ser colocado de lado havendo o desejo por parte dos controladores e a visão coesa de que um profissional de mercado pode vir a agregar valor ao negócio e trabalhar para seu desenvolvimento e longevidade. É, sim, um processo que, se bem trabalhado, com tempo e espaço para reflexão, irá trazer uma experiência positiva para toda a organização.

Viviane Doelman é diretora da 3G Consultoria – Governança, Gestão e Gente.
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