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A República de Ruanda não é um dos países mais procurados no Google ou tampouco um dos mais falados pelo mundo. O pequeno país do interior da África não é vocacionado para o turismo e nem é considerado uma grande potência, mas tem experimentado progressos no que diz respeito ao combate à corrupção, os quais podem inspirar aprimoramentos em países considerados promissores, como o Brasil.

Ruanda teve sua independência decretada somente em 1962. De lá até os anos 90, o país da África Centro-Oriental passou por diversos períodos turbulentos, que incluíram golpes militares e períodos de democracia, culminando em 1994 em um genocídio que vitimou mais de 800 mil pessoas. Porém, no ano de 2003, com a promulgação da nova constituição, Ruanda adotou uma política de tolerância zero contra a corrupção, tornando-se referência nos países africanos para esse assunto.

A partir de então, constataram-se alguns avanços no país. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Ruanda, por exemplo, que era de 0,213 no ano de 1995, e que o classificava como o 2.º pior desenvolvimento humano do planeta, passou para 0,520 em 2016, o 2.º melhor dos países africanos. Ou seja, a “caça às bruxas” no quesito corrupção contribuiu – e muito – para uma maior expectativa de vida, mais educação e mais riqueza por pessoa, aumentando a possibilidade de crescimento a cada dia, a cada ano.

Ruanda adotou uma política de tolerância zero contra a corrupção, tornando-se referência nos países africanos para esse assunto

Em contrapartida temos o Brasil. De acordo com a Transparência Internacional, se em 1995 o país ocupava a 37.ª posição na classificação do Índice de Percepção da Corrupção (um dos indicadores de corrupção mais utilizados no mundo), em 2016 estávamos na 79.ª posição.

No ano passado, inclusive, regredimos e passamos para a 96.ª posição de um ranking que conta com 180 países. Logo, mesmo em épocas de Lava Jato, constatamos que o Brasil se encontra hoje 59 posições abaixo daquela verificada 23 anos atrás.

Mais preocupante do que a posição ocupada pelo Brasil no ranking, são as consequências diretas da corrupção nos desempenhos econômico, social e ambiental da nação. Isso porque, de modo geral, quanto maiores são os níveis de corrupção, maiores são os índices de violência e menores são o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, o grau de desenvolvimento humano da população (leia-se aí pior educação e saúde, por exemplo) e os níveis de preservação ambiental.

Flávio Gordon: Mórbida Colheita: uma reflexão sobre o genocídio em Ruanda (publicado em 23 de maio de 2018)

Leia também: O violento cenário internacional atual (artigo de Ramon Blanco, publicado em 21 de abril de 2017)

Outros dados que podem nos encher os olhos: a Unicef estima que cada ano adicional de educação é capaz de aumentar, em média, a renda pessoal em 10% e o PIB de uma nação em 18%. Como a corrupção, muitas vezes, acaba desviando recursos que seriam destinados à saúde e educação, além de privar as pessoas de uma vida financeira melhor, a corrupção as priva de um futuro.

E o que falar de futuro em tempos como esse? Bem, ele pertence a nós. Que possamos minimamente refletir sobre as lições aprendidas em Ruanda sobre corrupção e, quem sabe, efetivar um Brasil melhor.

Gustavo Rafael Collere Possetti, doutor em Ciências e Colaborador da Plataforma Postura Sustentável. André Francisco Alves, mestre em Governança e Sustentabilidade, com foco em combate a corrupção e coordenador dos programas de Pós-Graduação e Extensão do Isae.
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