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Bolsonaro admite conversas com PSL
Presidente Jair Bolsonaro.| Foto: Alan Santos/PR

O tom de fala e as escolhas de palavras do nosso atual presidente Jair Bolsonaro dividem um país. Para alguns, a agressividade predomina. É a violência da transparência, como diria o filósofo Byung-Chul Han. O ódio explícito. Para outros, a transparência aparece como virtude. Autenticidade. Um político capaz de falar sem meandros, dirão. Uma chama de esperança. Não entrarei aqui em qualquer mérito político. Não é este o ponto. Conservador ou liberal, esquerda ou direita, herói ou vilão. Não é este o ponto – desta análise, é claro. Aqui, me interessa apenas responder uma única pergunta: como o tom de fala de um presidente pode dividir um país – e, principalmente, como poderíamos evitar essa cisão?

Em semiótica, a ciência que estuda a comunicação, dizemos que há dois principais tipos de tonalidades: lógica e emocional. A fala de Bolsonaro é construída quase que integralmente em cima da segunda tonalidade. Em tempos de incerteza, de caos, de conflito, esta forma de se expressar seduz parte da população por trazer consigo uma sensação de firmeza. Confiança. Atitude. É o estereótipo do chefe das últimas décadas do século 20. Para outra parte da população, este discurso aparece como agressivo. Dominador. Opressor. Se fôssemos uma empresa do século 21, essa tonalidade seria, sem dúvida alguma, classificada e resolvida como um episódio de assédio moral.

Esta tonalidade replete duas falácias clássicas na história da liderança (e da não liderança): confundir agressividade com assertividade e confundir carisma com fragilidade. Ser agressivo, enérgico, usar frases curtas e explosivas é algo bastante distinto de ser claro e preciso. A assertividade é um atributo lógico da linguagem, não emocional. Deveria, portanto, ser desenvolvido em cima deste campo, o da clareza lógica, em vez de ser trabalhado através da explosão emocional. As mesmas ideias, as mesmas decisões, os mesmos princípios poderiam ser comunicados por nosso chefe de Estado de uma forma muito mais clara e assertiva. O que ganharíamos com isso? O diálogo e a união de diferentes frentes em um momento crítico do nosso país.

Do outro lado, seguindo também o modelo de chefes tradicionais, seja do Estado ou de empresas, Bolsonaro segue confundindo carisma com fragilidade. Um erro da esfera emocional da comunicação. Falta para Bolsonaro perceber o quanto cresceria como líder se soubesse agir com uma linguagem mais carismática, mais humana e, principalmente, mais adaptável ao seu público e contexto (afinal, isso é carisma). Com isso, deixaria de ser um chefe aplaudido por metade da população. Passaria a ser um líder admirado por uma parte muito maior de seus liderados, mesmo havendo discordância.

Se há esperanças e possibilidades de mudanças? Não caberia a mim dizer. Porém, de algo tenho certeza: nunca houve um momento histórico onde fosse tão valioso unirmos uma nação. E, por incrível que pareça, a simples escolha de palavras do nosso atual presidente poderia ser um dos principais caminhos para conquistarmos isso.

Matheus Jacob é mestre em Filosofia pela PUC-SP, com educação executiva em Liderança e Comunicação pela Chicago Booth Business School e em Retórica e Persuasão pela Harvard University, e autor dos livros Homem que Sente e Coragem de Existir.

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