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O título deste artigo é uma expressão que roubei de Albert Einstein. Ele dizia que cada um de nós deve se fazer uma única pergunta na vida, cuja resposta determina nosso caráter, nosso bem-estar e se vamos passar a vida vendo dificuldade em toda oportunidade ou se vamos descobrir oportunidades nas dificuldades. A pergunta-chave é: "O universo é um lugar amigável?".

Essa pergunta ocorreu-me por ocasião da proposta do presidente Bush sobre a comercialização de etanol (álcool). Um grupo de nacionalistas levantou a bandeira de "o etanol é nosso", num arremedo piorado da campanha dos anos 50 "o petróleo é nosso". Essas pessoas enxergam problemas e ameaças em qualquer proposta que venha dos Estados Unidos. Não gosto da gestão Bush e não sou fã da forma de viver dos americanos, mas não sou estúpido de negar os bons valores da cultura daquele povo e, acima de tudo, negar a sua invejável competência tecnológica e científica.

Qualquer povo sobre este planeta carrega virtudes e imperfeições, qualidades e defeitos, comportamentos nobres e ignóbeis, inclusive, e acentuadamente, o Brasil. Não sendo um fã do american way of life, o jeito americano de viver, fico à vontade para dizer que, conforme a frase de Churchill no frontispício deste texto, devemos ser otimistas e ver oportunidades na proposta de Bush, pois se trata do maior mercado do mundo.

As reações contrárias às negociações com os Estados Unidos, sem reflexão, sem examinar os termos dos contratos, são posições dogmáticas derivadas de fanatismo antiamericano. Para os nacionalistas ferrenhos, o universo não é um lugar amigável e suas crenças nada têm de científicas, técnicas ou econômicas; são apenas uma forma psicológica de ver a vida, mais parecida com uma seita do que com ciência. Felizmente, o presidente Lula não se deixou levar pela insensatez dos radicais e parece que resolveu inspirar-se em Winston Churchill, tentando ver, na proposta de Bush, oportunidades de negócios para o Brasil.

Churchill, o grande estadista inglês, tinha razões para ver oportunidade nas dificuldades, inspirado na sua própria história de vida. Certa feita, um menino se atolou em um brejo na Irlanda e estava se afogando, quando foi salvo por um camponês, que o levou à sua casa e o protegeu. O pai do menino era um lorde inglês, que foi até o camponês para oferecer-lhe uma recompensa. O lorde insistia e o camponês rejeitava qualquer ajuda, dizendo que apenas fizera sua obrigação humana de salvar uma criança que se debatia no pântano. Durante o diálogo, entra correndo na sala o filho do camponês. O lorde então pede ao pobre lavrador que o deixe levar o garoto para estudar em Londres. Apesar da dor da separação, o camponês permitiu que o filho fosse estudar na capital.

O filho do lavrador acabou na Escola de Medicina do Hospital St. Mary, em Londres, e tornou-se um grande cientista. A vida do menino que quase morre afogado no brejo e a vida do filho do lavrador iriam se cruzar outra vez, numa coincidência quase mística. Após se tornar um grande político, aquele menino rico, agora adulto, contraiu pneumonia e corria risco de morrer. Ele estava mal, quando em determinado momento entra no quarto do hospital o médico dizendo: "Acaba de ser inventada a penicilina!". E a penicilina salvou a vida do paciente Winston Churchill, o menino que fora salvo pelo camponês nos pântanos da Irlanda. O inventor da penicilina: Alexander Fleming, o filho do lavrador que fora parar na escola de medicina pelas mãos do pai de Churchill, como recompensa pela boa ação do pai de Fleming.

O fato é que o universo pode ser visto como um inferno de provações ou pode ser visto como um oceano de oportunidades para enfrentarmos os dramas e as tragédias que caem sobre nossas cabeças todos os dias. Isso vale para o comportamento no plano individual como no plano coletivo. Assim, fazendo um esforço para ver o universo como um lugar amigável, penso que devemos tentar descobrir oportunidades nas dificuldades que possam surgir na proposta de Bush. Claro que os americanos vivem um péssimo momento da sua história, com atitudes lamentáveis e condenáveis. Porém, o universo pode estar dando uma mensagem a nós, mostrando que pode caber ao Brasil o papel de ajudar a grande nação americana a sair dessa insensatez em que se meteram por obra de uma gestão eivada de ódio político e estupidez econômica.

Se ficarmos no campo pragmático das coisas, trata-se de uma oportunidade de negócio, que não deve ser rejeitada antes de ser examinada em detalhes. Pragmatismo é isso: colocar a razão acima da emoção, antes de qualquer conclusão precipitada.

José Pio Martins é professor de economia e vice-reitor do Centro Universitário Positivo – UnicenP.

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