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Ao se discutir sobre melhores fontes de energia a empregar, há que se considerar dois grupos: as fontes renováveis e as limpas. São renováveis aquelas cujo fator gerador – ventos, águas e regeneração biótica – apresentam ciclos naturais que podem ser transformados em energia. São fontes limpas as que não geram problemas socioambientais em seu aproveitamento.

Mas nem toda energia renovável é limpa e nem toda energia limpa é renovável.

Entre as ofertas mundiais, poucas são as energias simultaneamente limpas e renováveis. Com lucidez técnica, o Brasil adotou a hidreletricidade, a mais significativa desse grupo. Mas dentre as fontes mundiais, esta representa meros 2,2% das ofertas, contra 80,3% das de origem fóssil. Além da hídrica, são energias limpas e renováveis, a eólica e a oceânica, chamadas energias alternativas (incluindo a hidreletricidade, na abordagem mundial), com potencial insuficiente para as demandas mundiais.

Ah, alguém lembrará, e o álcool e o biogás? Ora, não são limpas as fontes de energia que destroem ambientes naturais, impõem perdas de solos, dizimam culturas tradicionais, criam dependências socialmente nocivas, fragmentam ecossistemas vitais, introduzem espécies e, no caso da monocultura, alteram a biodiversidade de vastas regiões brasileiras. A favor desta energia renovável se levantam muitas vozes, incluindo as de "ecologistas", mas há que se refletir mais a respeito.

Das energias limpas, mas não-renováveis, duas se destacam: o gás natural e a nuclear. Então me dirão: gás natural, está bem, mas a nuclear? Repetir a decantada experiência de Angra? Correr o risco de um acidente como os de Three Miles Island e de Chernobyl? E a questão dos resíduos nucleares? Alguém logo se lembrará do caso de Goiânia – que não tem nada a ver, mas nessa hora vale tudo...

Permitam-me divagar: uma das experiências fortes da vida de muita gente foi ver de perto uma maria-fumaça, nome popular das locomotivas a vapor. A estrutura de aço e ferro, seu calor, a fumaça e os vapores, o ruído forte quando se colocava em movimento, tudo isso assustava, ao mesmo tempo em que encantava. Muitos ainda se lembram, com nostalgia, de suas viagens de trem. Eram cansativas: bancos de madeira, com cheiros pouco agradáveis e como jogavam aqueles vagões! As fornalhas usavam lenha ou carvão mineral, cuja fuligem penetrava nos vagões e sufocava quando o trem entrava num túnel.

Mas os trens do passado, nos países de governos sábios, foram aprimorados, ganharam fantásticas estruturas funcionais e hoje desenvolvem grandes velocidades. Desapareceram os balanços e é até hilário lembrar cheiros, desconfortos, fuligens e ruídos nesses novos trens. Em outras palavras, os trens evoluíram, atendendo às demandas das nações desenvolvidas. Essa evolução não ocorreu somente no conforto, mas também em termos ambientais e econômicos. Os trens, assim, são significativos na infra-estrutura das nações desenvolvidas.

Nossos trens e os dos países do Hemisfério Norte exemplificam a distância tecnológica que separa o nosso Brasil dos países desenvolvidos (uma distância que, aliás, não pára de aumentar). Um país "gigante pela própria natureza", que poderia ser realmente impávido colosso, se não fosse corroído pela pequenez mental de gerações de governantes, necessita de trens de avançada tecnologia, não das marias-fumaça que só servem para passeios turísticos. Precisa também de usinas nucleares. Não das devonianas como a de Chernobil e mesmo de Angra.

Existem, pasmem, evoluções no setor da energia nuclear! O Brasil, que detém a sexta maior jazida de urânio do mundo – depois de Austrália, Casaquistão, Canadá, África do Sul e Namíbia –, precisa, figurativamente, entrar na fase dos trens da alta tecnologia e colocar este fantástico potencial energético a serviço de nosso desenvolvimento. Lembrem-se: os trens modernos são diferentes dos antigos e têm reconhecidas e resolvidas suas questões ambientais.

Certamente já está em tempo de, com a necessária prudência e inteligência, mover-nos em busca das melhores tecnologias energéticas. Esse caminho inclui questionar racionalmente as organizações internacionais que querem nos determinar que fontes energéticas devemos usar e quais não. Chega de acatar passivamente sugestões que indicam que nosso papel é sermos eternamente dependentes e subdesenvolvidos. Afinal, temos urânio.

Arnaldo Carlos Muller é professor do curso de Engenharia Ambiental da PUCPR e coordenador do Instituto de Desenvolvimento Sustentável.arnaldo.muller@pucpr.br

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