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“Louvado seja, Senhor meu, pela nossa irmã, a mãe Terra, que nos sustenta e governa, produz numerosos frutos, flores multicolores e capim”, escreve São Francisco no Canto das Criaturas, citado logo no início de Laudato si’. A forma como Francisco, o papa, abre sua segunda encíclica no tom do canto da terra de Francisco de Assis é, por si só, revelador da mensagem que nos quer comunicar nessas suas substanciais quase 200 páginas: louvemos a Deus, em consonância com nossa irmã criatura, a mãe Terra, que nos sustenta, ornada de frutos e flores.

O louvor é o reconhecimento de Deus como Deus. Todas as criaturas, em uníssono com a mãe Terra, somos chamados a reconhecer o criador, de quem dependemos inteiramente na existência. Maltratada e ofendida, porém, pelos seus filhos, que a usam de maneira irresponsável e abusam dos bens que lhes oferece, a Terra protesta contra a violência que lhe é feita, “geme e sofre dores de parto” (Rm 8,2). Esquecemo-nos de que também o nosso corpo é feito com os mesmos elementos do planeta, respira o ar que a terra nos dá e vive da água que nos oferece.

Há apenas pouco mais de 50 anos começamos a tomar consciência dos “protestos” da Terra

Começando sua encíclica com o canto das criaturas, o papa Francisco se dirige a todos os que têm sensibilidade para se deixar tocar pelas terríveis consequências da deterioração do meio ambiente e que afetarão a todos, a começar pelos mais pobres e mais desprotegidos. A linguagem poética do pobrezinho de Assis, capaz de transmitir um sentimento impossível de ser expresso em conceitos, tem a força de nos convocar pelo coração para o esforço comum de salvar o planeta.

Por incrível que pareça, há apenas pouco mais de 50 anos começamos a tomar consciência dos “protestos” da Terra. Hoje, porém, ninguém tem mais o direito de lhe fechar os ouvidos.

Quando, nos fins do século 19, o clamor do operariado atingiu o auge, fez-se ouvir a voz de Leão XIII. A encíclica Rerum novarum abordou com coragem a questão operária e provocou intensa movimentação em favor do reordenamento mais justo da sociedade.

No século 20, em face da questão ecológica, o Concílio Vaticano II levou os dirigentes cristãos a tomar consciência mais aguda de sua responsabilidade em relação aos problemas da terra. Na medida em que a crise se agravava, acharam-se no dever de fazer o que estivesse a seu alcance. A Laudato si’ é um passo de gigante nessa direção: quer se tornar uma contribuição relevante para que nos empenhemos todos na solução dos problemas ambientais que a todos afetam.

Francisco Catão é teólogo e professor de Teologia.
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