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Líderes de oito países sul-americanos, entre eles o Brasil, estão representados na Cúpula da Amazônia, organizado pela OCTA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica).
Líderes de oito países sul-americanos, entre eles o Brasil, estão representados na Cúpula da Amazônia, organizado pela OCTA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica).| Foto: Vlad Hilitanu / Unsplash

No último dia 8 de agosto, tive o privilégio de depor na CPI das ONGs do Senado Federal, iniciativa de suma importância para o esclarecimento definitivo da atuação deletéria e insidiosa dessas entidades em uma campanha de décadas contra o desenvolvimento do Brasil.

Apesar de ocultarem-se por trás da nobre proposta de proteção do meio ambiente e das comunidades indígenas, as ONGs do que chamo o aparato ambientalista-indigenista internacional atuam como autênticas “tropas de choque” de uma guerra híbrida contra países dotados de importantes recursos naturais, caso do Brasil, em benefício dos seus controladores e financiadores – principalmente, os governos dos EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha e Noruega, fundações privadas, grandes empresas e outros interesses desses países, inclusive financeiros.

No caso da Amazônia, além dos seus vastos recursos minerais, energéticos e biológicos, o destaque conferido à alegada “devastação” dos seus biomas responde ao interesse em: 1) usar a Floresta Amazônica como “colateral” para grandes esquemas de compensação de emissões de gases de efeito estufa (créditos de carbono); e 2) bloquear a expansão agropecuária do Cerrado.

Com frequência, tais denúncias costumam ser recebidas como “teorias da conspiração”, mas, como os brasileiros conscientes e atentos ao problema têm constatado, nas últimas décadas, elas não têm nada de teoria e, a rigor, nem mesmo de conspiração. Ao contrário, tudo é feito às claras e com um amplo apoio de diversos setores da sociedade, iludidos pelo discurso fácil da “proteção” do meio ambiente e dos povos indígenas, além da largamente exagerada crise climática.

Uma demonstração dos resultados pífios dos pagamentos por "serviços ambientais" pode ser vista no Acre, onde o grupo político de Marina Silva os aplicou com o pomposo nome de “Florestania”. Hoje, o estado é o segundo mais pobre da Região Norte, à frente apenas de Roraima.

Em termos profissionais, tenho acompanhado, investigado e denunciado a atuação desse aparato “verde-indígena” no Brasil desde a década de 1980, primeiro, como correspondente estrangeiro de imprensa e, a partir de 1992, com o Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa), do qual fui um dos fundadores. Trabalho que temos exposto em centenas de palestras, entrevistas, debates e vídeos e outros tantos de artigos, além de vários livros, entre eles o “best-seller” Máfia Verde: o ambientalismo a serviço do Governo Mundial, que teve 13 edições desde 2001, com mais de 25 mil exemplares vendidos, além de edições em espanhol e inglês.

Igualmente, pude expor a atuação daquele aparato antinacional em quatro CPIs: a de 1991 da Câmara dos Deputados sobre a ameaça de internacionalização da Amazônia; a de 2001 do Senado sobre as ONGs; a de 2015 da Câmara sobre a FUNAI/INCRA; e a de 2015 da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul sobre o Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

Em uma conferência na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), em 1991, com minha esposa Silvia Palacios, expusemos a estratégia do que se apresentava como a “Nova Ordem Mundial”, recém-aplicada contra o Iraque na Guerra do Golfo, a qual incluía uma pauta de influência e pressões políticas contra países detentores de vastos recursos naturais, caso ostensivo do Brasil.

Na ocasião, havia uma grande apreensão com a possibilidade de que houvesse uma ameaça militar contra a Amazônia. A rigor, a ocupação da região já vinha sendo planejada e efetuada por um exército irregular de ONGs que, com o pretexto da “proteção” do meio ambiente e dos povos indígenas, passaram a exercer grande influência nas políticas de desenvolvimento brasileiras, principalmente, criando obstáculos para grandes projetos de infraestrutura, como a hidrovia Paraguai-Paraná, usinas hidrelétricas (p.ex., Cararaô/Belo Monte), o programa nuclear e outros.

Essa estratégia começou a ser idealizada na década de 1970, esboçada no relatório NSSM-200 do Conselho de Segurança dos EUA, de 1974, o qual propunha a imposição de políticas de controle de população a um grupo de 13 países detentores de vastos recursos naturais, entre eles o México, meu país natal, a Colômbia e o Brasil.

Na década seguinte, a pauta passou a incluir a proposta de que as dívidas dos países em desenvolvimento, às voltas com a crise deflagrada pelo choque de juros de 1981, poderiam ser parcialmente pagas com ativos das respectivas empresas estatais, como se estabeleceu em um seminário do American Enterprise Institute em 1983, com a presença de altos hierarcas do Establishment estadunidense. Na ocasião, a Pemex mexicana e a Petrobras foram explicitamente citadas.

Posteriormente, a sugestão foi estendida para a criação de mecanismos financeiros de “dívida-por-natureza”, que assegurassem uma virtual interdição de grandes áreas ricas em recursos naturais a iniciativas econômicas e de desenvolvimento em geral.

Os atuais esquemas de pagamentos por “serviços ambientais”, nos quais o governo brasileiro e importantes setores empresariais estão depositando excessivas expectativas como instrumentos de financiamento para o desenvolvimento, não passam de uma atualização daquelas propostas, cujos resultados poderão ser desastrosos para o futuro do País.

Uma demonstração dos resultados pífios da aplicação desses instrumentos, usando a floresta como “vantagem comparativa”, pode ser vista no Acre, onde o grupo político da atual ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, os aplicou com o pomposo nome de “Florestania”. Hoje, o estado é o segundo mais pobre da Região Norte, à frente apenas de Roraima, a unidade da federação mais arruinada pelos compromissos assumidos por sucessivos governos com a agenda da “sustentabilidade”, em detrimento dos interesses maiores da população local.

Um acontecimento que me despertou para essa estratégia no Brasil foi o assassinato do líder seringueiro Chico Mendes, em dezembro de 1988, que motivou uma histérica onda de indignação internacional, absolutamente injustificada no caso de um personagem virtualmente desconhecido no próprio país – mas, como se constatou depois, visitante corriqueiro dos corredores do poder em Washington, incluindo o Congresso e o Banco Mundial, levado por ONGs como o Environmental Defense Fund, National Wildlife Federation e Instituto de Estudos Amazônicos (curiosamente, sediado em Curitiba).

Outro episódio relevante foi o Encontro de Altamira, em fevereiro de 1989, que reuniu centenas de representantes de ONGs e lideranças indígenas estrangeiras e brasileiras, para discutir formas de pressão política contra os projetos de desenvolvimento na Amazônia, inclusive as usinas hidrelétricas pretendidas para o rio Xingu.

Desde então, esse exército irregular de ONGs estrangeiras e outras nominalmente brasileiras, mas amplamente financiadas do exterior, tem estado por trás de todas as campanhas contra iniciativas econômicas e desenvolvimento, com ênfase na Amazônia Legal. Para citar apenas as mais notórias: Instituto Socioambiental (ISA); WWF-Brasil; Greenpeace Brasil; Observatório do Clima; Instituto Clima e Sociedade; World Resources Institute Brasil; The Nature Conservancy Brasil; Conservation International Brasil; Conselho Indigenista Missionário (CIMI); Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM, filial do Woods Hole Research Center); Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB); Survival International; Ecologia e Ação (ECOA).

E não se trata aqui de demonizar as ONGs no atacado. Existem organizações sérias, como o Instituto Trata Brasil, que há anos se dedica a estudar a fundo e destacar o que é de longe o maior problema ambiental do País: as deficiências da infraestrutura de saneamento básico e seus múltiplos impactos socioeconômicos negativos – raramente abordado pelas integrantes do aparato “verde-indígena”.

Na CPI, afirmei que o Brasil não pode ficar simplesmente contemplando esse poder genuinamente neocolonial sem oferecer nenhuma resposta de indignação, o que não depende apenas de projetos e decretos legislativos. É preciso que haja um movimento de indignação nacional, que, penso, a própria CPI poderá ajudar a catalisar, em especial, com os testemunhos das lideranças indígenas que precederam o meu depoimento, relatando uma série de abusos e irregularidades de ONGs que professam a sua defesa. Penso que é preciso que se estabeleça uma massa crítica de indignação para que haja uma mudança nessa insanidade, contra a qual venho me empenhando durante mais da metade da minha vida.

Ali, vocalizei uma palavra de ordem que, ao meu ver, poderia simbolizar esse movimento: em lugar de, nossa bandeira jamais será vermelha, proponho: a Amazônia jamais será estrangeira.

Lorenzo Carrasco é jornalista, presidente do Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa) e da Capax Dei Editora; autor dos livros "Conselho Indigenista Missionário: Filho da Mentira" (2016) e "Una mirada al mundo y a los valores que cimentan un nuevo orden mundial" (2012); coautor de "Máfia Verde: o ambientalismo a serviço do Governo Mundial" (2001), "Máfia Verde 2: ambientalismo, novo colonialismo" (2005), "A hora das hidrovias: estradas para o futuro do Brasil" (2008), "Quem manipula os povos indígenas contra o desenvolvimento do Brasil: um olhar nos porões do Conselho Mundial de Igrejas" (2013), "Uma nação desarmada" (2016) e "A missão da Rússia na mudança de época global" (coord., 2019), todos publicados pela Capax Dei Editora.

Conteúdo editado por:Bruna Frascolla Bloise
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