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Bandeira da ONU.
Bandeira da ONU.| Foto: stefanocar/Bigstock

Tudo o que existe um dia acaba, seja animal, vegetal ou borracha. Esta última, dizem que demora a se dissolver, mas o seu dia também chega. Até mesmo concepções abstratas como as empresas estão sujeitas à mesma sina: nada neste mundo ou fora dele escapa das garras da morte.

Mas, além do plástico lesivo, algumas organizações públicas também duram além do tolerável, tornando-se um fardo para o contribuinte. Nem todo fim gera tristeza; ao contrário, a liquidação de certas entidades merece aplausos.

Nem tudo é ruim, há joio e trigo sob a tutela estatal. Existem instituições públicas que funcionam bem, nas quais as decisões são transparentes e ninguém esquenta a cadeira, a troca de chefia é constante. O mesmo não ocorre em outros órgãos em que deliberações importantes são tomadas por conselheiros sem rosto; noutros, ainda, cadeiras viram trono.

Existem muitas maneiras de recolocar nos trilhos entidade desfocada de seu ofício ou atolada em má gestão, cada uma deve buscar o seu próprio jeito. O importante é ter consciência de que é preciso servir bem a sociedade.

Orçamento e autonomia garantidos em lei, bem como estabilidade absoluta do emprego, nutrem o sonho corporativo de quem aprecia a vida sem risco, mas no longo prazo tanta vantagem não seria a ruína de grandes corporações que já foram razão de orgulho e, mesmo desacreditadas, ainda ostentam relevância?

A inércia das instituições mal administradas nem sempre afeta o humor de quem paga a conta, mas em dado momento o descaso daquelas que se fecham em seus próprios interesses vai escandalizar a população, e aí ninguém segura a onda.

Em geral cada pessoa, inclusive este que escreve, traz na ponta da língua alguma autarquia ou agremiação que deveria ser reestruturada ou extinta. Quando a birra pessoal se amplia em desencanto coletivo, convém que o Estado, por meio de seus agentes, promova a mudança requerida, antes de a insatisfação empurrar a massa para a rua. Afinal, o fervor da multidão é imprevisível, nem sempre pacífico. Pode aflorar por demanda menor inclusive, encorpando-se ordeiramente como aconteceu no Brasil em 2013, eclodir violentamente (como no Chile em 2019), ou explodir de súbito destruindo tudo (como na França em 1789), e na fúria é impossível diferenciar o útil daquilo que não serve mais.

É preferível que o poder político assuma a dianteira, corrigindo eventuais desvios de missão das entidades públicas ou extinguindo simplesmente aquilo que já virou estorvo puro. Como exemplos de decisão oportuna via ação política, cita-se a extinção da Sunab e da Liga das Nações, por não atender aos propósitos para os quais foram criadas. A primeira fracassou na missão de controlar preços no Brasil; a segunda, em promover a paz mundial. Apesar do esperneio pontual de quem perdeu privilégios, não deixaram saudade, foram-se tarde demais.

Para substituir a Liga das Nações, a ONU foi criada. Mas não goza de consenso; desde a sua criação, sua eficiência é questionada. Com o passar do tempo, líderes importantes se mostram incomodados com os rumos da corporação gigante e perdulária. Ano após ano, queixas se acumulam, artigos e reportagens apontam comissões bizarras nas quais ditadores dominam a pauta.

Apesar de os governantes desfrutarem fama de protelar problemas, e de a paciência do povo ser mais elástica que a borracha, não convém para nenhuma instituição pública subestimar o ditado: quanto maior a altura, maior a queda.

Florentino Fagundes é professor de Matemática da PUCPR e escritor.

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