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Nas reuniões entre países de língua portuguesa, são feitas duas atas, uma no português usado em Portugal, outra em português usado no Brasil

O novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrou em vigor em 1.º de janeiro deste ano provocando um impacto no mercado editorial que pode ser visto sob dois pontos de vista. O primeiro é urgente e refere-se aos investimentos iniciais que as editoras brasileiras fizeram (ou terão que fazer) para se adaptar às novas regras ortográficas.

A estimativa é que o setor invista em torno de R$ 30 milhões na revisão de edições antigas e no lançamento de novos títulos. Embora exista um prazo de adaptação de três anos entre as novas e antigas regras, a maioria das editoras se mobilizou para atender às mudanças previstas na reforma. No médio prazo, o setor editorial deve estar adaptado às novas normas, assim como já vem ocorrendo com boa parte da mídia impressa.

Alguns segmentos, no entanto, tiveram que agilizar o processo de implantação do Acordo Ortográfico, caso dos livros didáticos e dicionários, para poder participar das licitações do governo federal em 2009. No ano passado, o governo, maior comprador do mercado, encomendou mais de 108 milhões de títulos, o equivalente a um investimento de cerca de R$ 720 milhões.

Sob a ótica das oportunidades que a reforma ortográfica pode gerar, é preciso considerar o público leitor dos países de língua portuguesa, como Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor-Leste. Ao todo, são aproximadamente 67 milhões de pessoas que falam o português nesses sete países. Além de Portugal, as editoras brasileiras terão boas oportunidades de negócios nos outros países lusófonos que foram colônias portuguesas e onde prevalece até o momento a ortografia do país de Camões, Fernando Pessoa e Saramago.

Outra vantagem do Acordo para as editoras é a solução de um antigo problema: a adaptação dos livros produzidos no Brasil para o português usado nos diferentes países de língua portuguesa. O Acordo deve contribuir, ainda, para o ensino e a difusão da língua portuguesa no exterior, fomentar a cooperação e o intercâmbio cultural e facilitar o processo de adoção do português nos órgãos internacionais.

As facilidades promovidas pelo Acordo atingem também as relações internacionais. Até hoje, nas reuniões entre países de língua portuguesa, são feitas duas atas, uma no português usado em Portugal, outra em português usado no Brasil.

Desde o início das negociações para unificação da escrita em português entre os países lusófonos, em 1990, o assunto tem sido fonte de polêmica entre especialistas, escritores, instituições e, até mesmo, governos. A contrariedade principal vem dos temores de perda das especificidades da língua nos diferentes países, colocando em xeque a identidade cultural das nações envolvidas, fato pouco provável. Até porque a unificação envolve exclusivamente a forma de escrever. Para se ter uma ideia, o Acordo deve modificar apenas 1,42% das palavras em Portugal e 0,43% no Brasil.

Não se trata, portanto, de acabar com as diferenças culturais entre os povos de língua portuguesa, mas de manter uma certa unidade da língua escrita visando a sua universalização e criar facilidades para o intercâmbio e relacionamento cultural.

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