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Estudando programação
Imagem ilustrativa.| Foto: Pch Vector / Freepik

Em diferentes cidades do país, se este artigo for entregue a uma pessoa, ela poderá não conseguir decifrar o que significam essas letras e palavras. Isso ocorre porque quase 10 milhões de pessoas com 15 anos ou mais não sabem ler e escrever. O número representa 5,6% da população total do Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Ainda que a porcentagem seja baixa em relação ao que foi registrado no início da República (em 1889 eram 85% de analfabetos, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada – IPEA), o número de pessoas que não sabe ler e escrever revela um retrato de desigualdade social, regional e racial que o país ainda carrega.

Neste mês de novembro, quando é celebrado o Dia Nacional da Alfabetização (no dia 14) para elucidar os desafios que o Brasil enfrenta, é importante ver o que esses 5,6% da população representam. Dentro desta proporção, 55,3% vivem no Nordeste, o que já nos mostra um abismo geográfico. Quando o assunto é cor e raça, 3,4% da população branca ainda não sabe ler e escrever, enquanto entre as pessoas negras o número é de 7,4%. Ou seja, a questão racial está escancarada também no ato de ler e escrever. Outro dado preocupante é que 18% dos jovens de 14 a 29 anos não completaram a educação básica (Ensino Fundamental e Médio), seja por abandono ou por nunca terem frequentado as escolas.

Habitar a educação acima dos interesses políticos de um país é o maior dos desafios a ser superado, mas é o único caminho para que os cidadãos possam conquistar a liberdade.

É notório que um número que parecia pequeno, na verdade, revela um Brasil desparelho. E mesmo para aqueles que são alfabetizados, podem não ser necessariamente considerados letrados, ou seja, pessoas que embora escrevam letras e números, sobretudo não compreendem e interpretam o que leem e que, neste caso, são considerados analfabetos funcionais, o que mostra mais um obstáculo na alfabetização. Segundo o Relatório do 2º Ciclo de Metas do Plano Nacional de Educação (PNE), divulgado em 2018 (o mais recente), a taxa de analfabetismo funcional é de 16,6% em pessoas com 15 anos ou mais, o que, segundo o documento, está distante dos 9,2% projetados para o ano de 2024, que está prestes a se iniciar. Quando as regiões Norte e Nordeste são analisadas, esse índice sobe para 20,2% e 25,9%, respectivamente.

Mas como a educação pode superar esses desafios? Qual o caminho para melhorar as estatísticas brasileiras, e possibilitar a tantas pessoas uma alfabetização plena, que de fato contribua para a emancipação enquanto indivíduos da sociedade? A resposta não é simples, mas existem caminhos importantes que podem ser trilhados e um deles é a valorização dos profissionais da educação. São eles que se empenham, todos os dias, muitas vezes com falta de recursos, para ver seus alunos e alunas progredirem nos estudos. Eles são a engrenagem e a força intelectual que move a educação brasileira. Seu trabalho deve ser reconhecido em questões físicas, salariais e emocionais. A educação não existe sem professores, pedagogos, funcionários, merendeiras e toda a estrutura de uma escola. E isso fica claro também para os alunos, que são capazes de perceber a desvalorização da educação e dos profissionais, pois fazem parte de sua rotina diária de aulas.

Por que ainda é necessário lembrar desta questão tão latente dentro do cenário educacional brasileiro? Uma pesquisa divulgada em setembro de 2022 pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) revelou que até 2040 o Brasil terá déficit de 235 mil professores na educação básica. Entre as causas dessa falta de docentes está o desinteresse dos jovens, motivado não só por questões salariais, mas por falta de estrutura, violência e problemas de saúde. Portanto, para avançar na erradicação do analfabetismo em suas diferentes formas, é essencial a valorização e respeito aos profissionais por toda a sociedade.

Outro caminho a ser trilhado é a viabilização de políticas públicas efetivas que deem às pessoas que estão à margem da educação a possibilidade de encontrarem propósito quando buscam a formação educacional. A falta de acesso, desinteresse ou evasão escolar são sintomas de problemas sociais enraizados nas castas mais pobres, que necessitam trabalhar o quanto antes para manter a própria vida, colocando a escola até mesmo como uma ostentação ao olharem para suas necessidades.

Habitar a educação acima dos interesses políticos de um país é sem dúvida o maior dos desafios a ser superado, mas é sem dúvida alguma o único caminho para que os cidadãos possam conquistar a liberdade. Pois os atos de ler, escrever e compreender, ainda que pareçam conquistas individuais, não são. Todas as vezes que uma pessoa, seja ela criança ou já adulta, se apropria destas capacidades, revela-se dentro de um país mais um indivíduo que usufruirá dos seus direitos e, por assim ser, desempenhará um papel ativo e transformador em seu ambiente.

Carolina Paschoal é diretora e pedagoga da Escola Pedro Apóstolo.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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