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O crescimento das economias asiáticas, principalmente da China, vem alterando o peso econômico e o mapa geopolítico mundial. O elevado crescimento da economia chinesa de forma sustentável, além da perspectiva que esse crescimento continue por um longo período, visto o seu ainda baixo PIB per capita, vem causando uma mudança em sua importância econômica mundial, além de uma maior dependência de vários países em relação à sua demanda.

Esse cenário fica ainda mais claro quando se considera a crise internacional de 2007-2009, em que a China apresentou um papel muito relevante para que ela (a crise) não se tornasse ainda mais profunda. O forte crescimento da economia chinesa, mesmo no período mais crítico da crise, foi de extrema relevância para manter o dinamismo das exportações de vários países, contribuindo para que os mesmos atravessassem esse período de forma mais suave.

Por exemplo, a manutenção do elevado crescimento econômico da China durante a crise foi fundamental para estimular a demanda dos países asiáticos de modo a auxiliar a economia dos mesmos. Economias como Taiwan e Tailândia foram as mais beneficiadas por possuírem um elevado coeficiente de exportações.

Essa demanda foi importante, até mesmo, para o Brasil. A pauta de exportações deste vem se tornando cada vez mais dependente da demanda chinesa, particularmente, e dos países asiáticos, em geral. No entanto, a demanda chinesa de produtos originários do Brasil é concentrada em bens de baixo valor agregado e baixo conteúdo tecnológico, como commodities e bens industriais básicos, o que provoca uma alteração em sua pauta de exportações.

Mudanças na pauta de exportações tendem a provocar mudanças na estrutura de produção das economias, com impactos sobre o dinamismo econômico. Se os setores mais prejudicados forem justamente aqueles mais dinâmicos, os seus impactos sobre o crescimento de longo prazo serão negativos. Adicionalmente, esse deslocamento da demanda por commodities e bens industriais básicos brasileiros ocasiona apreciações na taxa real de câmbio, com impactos adicionais sobre a pauta de exportações brasileira.

Assim, entender esse processo é um elemento básico para traçar as perspectivas econômicas futuras do Brasil, além de fornecer uma base para que políticas econômicas possam ser adotadas de forma que esta região consiga se adequar às alterações no cenário internacional da melhor forma possível. Ou seja, os formuladores de política econômica precisam prestar atenção aos impactos das alterações da demanda externa na pauta de exportações e na taxa de câmbio real e da importância destas no dinamismo econômico.

Uma das conclusões que podemos chegar é que essas mudanças na economia mundial devem ser associadas a políticas cambiais que sejam benéficas para o desempenho econômico no longo prazo, além da necessidade de se adotar políticas econômicas que estimulem aqueles setores que são mais dinâmicos e possuem maior potencial de inovação e difusão de tecnologia de forma a compensar o aumento da demanda mundial por bens brasileiros de menor conteúdo tecnológico.

Outro ponto importante é, como já ressaltado pela teoria econômica, que a taxa de juros tem um papel relevante na determinação da taxa de câmbio e dos investimentos produtivos. Assim, quando tratamos de políticas cambiais e setoriais, precisamos analisar também quais as políticas de taxa de juros a serem adotadas e as interações entre essas variáveis, e não considerar a taxa de juros como um mero instrumento de controle inflacionário. Ou seja, a consideração de todas essas relações é de suma importância para dar apoio a políticas econômicas que sejam adotadas visando o crescimento, de forma sustentável.

Luciano Nakabashi, doutor em economia, é professor do Departamento de Economia da UFPR e coordenador do boletim de Economia & Tecnologia.luciano.nakabashi@gmail.com

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