• Carregando...

Cada vez que nos deparamos com uma injustiça nos indignamos com seus efeitos, exatamente porque sentimos a quebra da harmonia que deve reger a vida em sociedade

O homem precisa perceber harmonia em tudo que empreende ou se sentirá inquieto, intranquilo e infeliz. Isso porque nossa razão exige um sistema para que se atinja o conhecimento e, mais ainda, é necessário que ele seja harmônico para que seja aceitável. Pegue-se o Sistema Solar. Vê-se que alguns de seus planetas não foram descobertos a olho nu, mas pela razão em busca da harmonia que exigia suas existências, mesmo que invisíveis àquele tempo. Foi na busca dessa harmonia que a intuição dos cientistas apontou locais no firmamento procurando planetas cuja falta tornaria impossível a existência do sistema. Assim o fizeram até que os descobriram, alcançando a harmonia que os fizesse descansar.

Nosso cotidiano não é diferente, pois cada vez que nos deparamos com uma injustiça nos indignamos com seus efeitos, exatamente porque sentimos a quebra da harmonia que deve reger a vida em sociedade. Quando vemos a corrupção, por exemplo, sempre fazemos uma alusão aos efeitos na redução da pobreza que tal desordem causa no sistema social: quantas escolas, hospitais e colégios se construiriam em prol da sociedade se ela não existisse, dizem. Por quê? Pela simples constatação de que esse câncer é uma quebra da harmonia do sistema a intranquilizar a todos, menos aos corruptos, que entendem que suas ações são parte da vida em sociedade.

Claro que o pensamento desses senhores é apenas em teoria, pois quando são eles os defraudados, rapidamente buscam repor seus supostos "direitos de furtar" que lhes foram surrupiados. Tal comportamento é fácil de ser denominado: chama-se egoísmo!

Ora, o sistema social se ampara em vários subsistemas, públicos ou privados, que afeta o todo da sociedade, pois sempre que se perpetua uma violência, se ataca de forma funesta toda a sociedade, mesmo que ela não se dê conta disso. Isso porque, na maioria das vezes, os atos e suas consequências localizam-se em subsistemas distintos, que só me atingem pelos extremos, ou seja, indiretamente. Assim, quando corrompemos alguém para em troca ganhar alguma vantagem ou fugir de uma penalidade, toda a sociedade perde, ao ficar mais desonesta, fato que é percebido pelos cidadãos que a reproduzem em cascata.

É fácil verificar que a corrupção no subsistema público – mau uso do poder – produz efeitos no privado, que as empresas buscam combater através de códigos de ética. Combater esses hábitos não é fácil, pois o subsistema moral que incita nossa indignação com a corrupção não é o mesmo do eleitoral quando os lobos tomam pele de cordeiro e abusam da ignorância alheia ao pedir os votos que os manterão no assalto à coisa pública em troca de alguns favores ou programas supostamente sociais. Ora, isso é se utilizar da mesma corrupção, apenas com alvos diferentes, alimentados pelo egoísmo.

Se todos nós vivemos intranquilos, inquietos ou infelizes é porque falta harmonia ao sistema ético normativo social implantado no país, e sua base é uma só: o egoísmo fomentado pela educação pátria.

Só há uma forma de reversão dessa desarmonia: a volta da Ética da Areté (virtude, em grego), que vigeu no mundo por mais de 2 mil anos, mas que foi solapada no último século, pela ditadura do relativismo. Ora, se tudo é relativo, não existe justiça. Eis a singela razão que alimenta o egoísmo pessoal.

Sávio Ferreira de Souza, advogado, é empresário, professor e mestre em Educação.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]