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O recente acordo homologado no dia 24 de novembro, firmado entre Funpar, UFPR e Ministério Público do Trabalho, determina que todos os trabalhadores da Funpar do Hospital de Clínicas sejam demitidos em no máximo cinco anos, que sejam dispensados como material hospitalar descartável – "usou, agora joga fora". Ao contrário do que foi divulgado na mídia e pela UFPR, não há nenhuma cláusula de estabilidade no documento, mas sim uma determinação definitiva que decretou, mais uma vez, a demissão de 916 trabalhadores (dentro da Ação Civil Pública que já vinha requerendo a extinção desses postos de trabalho há pelo menos 12 anos).

O acordo é categórico quando traz, já na primeira cláusula, que "A Funpar e a Universidade Federal do Paraná (UFPR) se comprometem a realizar o desligamento de todos os empregados da Funpar que estão lotados ou que prestam serviços no Hospital de Clínicas da UFPR no prazo máximo de 5 (cinco) anos". Na cláusula quarta do mesmo acordo, as partes concordam que "O desligamento dos empregados será feito a critério exclusivo da Funpar, garantindo-se o seu direito potestativo, e será feito de forma gradativa e a qualquer momento, respeitado o limite de 5 (cinco) anos". Este é o real teor do acordo realizado pela Reitoria da UFPR, pela Funpar e pelo MPT, e pode ser acessado na íntegra no site do Tribunal Regional do Trabalho.

O Sinditest nunca teve dúvida de que a Ebserh – a transformação do maior hospital público do Paraná em empresa – prejudicaria os trabalhadores e usuários do SUS. Por isso, lutamos de forma intensa contra a privatização, sabíamos que o próximo passo seria a assinatura de um acordo de demissão. Os empregos desses homens e mulheres com 20, 25 e até 30 anos dedicados ao hospital foram utilizados como moeda de troca para a entrada da empresa.

Lutar virou crime e defender a sobrevivência virou abuso. Ao lado do trabalhador, realizamos a forte greve no dia 4 de junho de 2014 em defesa da estabilidade nos empregos. A greve pedia a suspensão da execução do acordo pelo prazo de sete anos, acrescidos do exercício da cláusula de pré-aposentadoria, já presente no Acordo Coletivo da categoria. A paralisação chegou a ser criminalizada e indicada, em dissídio coletivo, como abusiva. Em decisão do TRT do dia 17 de novembro, a condenação foi reformulada, não considerou a greve abusiva e homologou de forma definitiva o ACT 2014/2015, além de remover a multa ao sindicato.

Em 28 de agosto, durante a última manifestação realizada na UFPR para que esta não aprovasse a privatização, um manifestante foi preso e outras dezenas, duramente reprimidas pela intensa força policial presente. Foi assim, à base de demissões, balas, bombas e prisões, que perdemos o maior patrimônio da saúde pública no Paraná: o Hospital de Clínicas segue agora a lógica empresarial, do lucro, da saúde transformada em mercadoria.

Agora resta a esses trabalhadores que já atravessaram a política privatizante de FHC, de Lula e Dilma, continuar de cabeça erguida, continuar lutando contra as demissões, lutando por um salário digno e por plano de carreira, que até agora não possuem. Não é possível, e muito menos aceitável, que esses homens e mulheres que diariamente salvam a vida de tantas pessoas, que ocupam um posto de trabalho de extrema centralidade na sociedade garantindo saúde pública, não tenham reconhecimento e dignidade nas suas vidas. Seguiremos lutando ao lado dos trabalhadores e das trabalhadoras na defesa de seus empregos!

Adriana Possan é jornalista. Carla Cobalchini é presidente do Sinditest-PR.

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