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fake news
Imagem ilustrativa de computador com fake news.| Foto: Pixabay

Não é novidade que hoje as redes sociais são as grandes responsáveis pela circulação de notícias em geral, desde as mais comezinhas, como troca de mensagens entre moradores de um condomínio, até sobre o teor de decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal.

Mas a obtenção de informação nem sempre foi algo tão simples. Na Roma Antiga as notícias vinham pela Acta Diurna, uma espécie de placa fixada em locais públicos, por determinação de Júlio César, onde eram expostos os acontecimentos, em especial as ações do governo. Na Veneza do século 16, os fatos eram reproduzidos à mão em uma folha, vendida ao preço de uma gazeta (moeda de baixo valor), expressão que tornou-se popular e identifica muitos periódicos até os dias atuais. Mas foi com Gutenberg que veio a revolução da imprensa e as notícias passaram a se disseminar com mais velocidade, por meio do então criado sistema de impressão com tipos móveis.

Já há cerca de uma década, o controle da informação, assim entendido como quais e de que forma as pautas são (ou deixam de ser) veiculadas, era exclusivamente de jornais, sejam físicos (que ano a ano já vinham perdendo seu protagonismo), sejam televisivos (os mais difundidos entre todas as classes da população), sejam virtuais – que muitas vezes apenas replicam em meio eletrônico as mesmas notícias oriundas dos outros canais.

Isso muda substancialmente com o crescimento exponencial das redes sociais, pois a informação deixou de ser controlada por poucas fontes e passou a ser de todos. Hoje, qualquer pessoa pode criar um perfil em uma rede social e tornar-se um potencial veículo de produção e prolação de conteúdo informativo.

Assim, torna-se fundamental compreender o porquê de tais notícias serem replicadas massivamente, ao contrário de uma informação fidedigna que busca desmentir a notícia falsa veiculada, recebendo repercussão infinitamente menor.

Com efeito, dois aspectos podem ser observados. Um primeiro, que envolve a escolha/criação dos conteúdos. E um segundo, que se relaciona com a compreensão dos motivos pelos quais essa propagação é excessiva e incontrolável.

Quanto ao primeiro, nota-se que a escolha de conteúdos é orientada pelo potencial de ter grande e rápido alcance, conquistando uma quantidade maior de cliques. Portanto, compreender o comportamento humano e a forma de reação das pessoas tornou-se fundamental para que a notícia tenha “aprovação”. Reações como ódio, indignação e (principalmente) a confirmação de nossas opiniões é que estão na pauta da criação dos conteúdos, já que atraem mais a atenção.

O segundo aspecto reside em entender por que o público alvo das notícias falsas as propaga sem o mínimo interesse de verificar sua veracidade. Aqui, um dos fatores é a facilidade proporcionada pelas novas tecnologias, que permitem a difusão instantânea e em larga escala de conteúdo. Outro fator, e talvez o principal, é que as mídias sociais acabam por segmentar e agrupar as pessoas de acordo com as mesmas opiniões, que passam a consumir apenas conteúdos previamente produzidos com a intenção de confirmar suas versões de mundo. É o que se denominou de “viés de confirmação”, quando o receptor da mensagem cria uma visão distorcida da realidade, acomodando a complexidade presente em determinado assunto, para adaptá-la às suas crenças e preferências.

Farhad Manjoo alerta que a mente humana tende a escolher informações que sigam as suas ideologias e rejeita aquilo que é contraditório, ou seja, as pessoas involuntariamente buscam criar um ambiente informativo próprio, que confirme aquilo que acreditam seja verdade. Nesse sentido, o conforto de se posicionar nas mídias sociais, agregando amizades e participando de debates de acordo com o que acreditamos, facilita a nossa forma de combater ideias contrárias, confirma posicionamentos convergentes e nos permite criar a realidade que queremos, mesmo que implique em uma visão de mundo distorcida dos fatos. Portanto, somos direcionados a criar uma realidade paralela, sendo ela a versão que nos interessa.

Diante de todos esses aspectos, nota-se que esse fenômeno não será facilmente superado, já que ele explora sentimentos intrínsecos à mente humana, tornando os mecanismos de criação e reprodução muito mais eficientes que os de enfrentamento.

Precisamos, portanto, conceber que o problema tem múltiplas facetas e complexidades, de forma que seu enfrentamento exige muito mais do que simples tentativas de penalizações, pois passa por mudança de postura pessoal, envolvendo a própria cultura (crenças, hábitos e valores).

Se pudéssemos fazer um paralelo entre as fake news e a pandemia da Covid-19, poder-se-ia dizer que, enquanto o distanciamento social apresenta-se como uma das ferramentas mais eficazes para combater a proliferação do coronavírus, para iniciar o enfrentamento às fake news as pessoas deveriam se aproximar de posicionamentos antagônicos aos seus, possibilitando que suas bolhas artificiais da realidade sejam rompidas, pois somente com um efetivo interesse pela verdadeira informação, filtrada por discussões onde todos os grupos sociais participem de forma harmônica, é que a desinformação poderá ser vencida.

Ruy Fonsatti Junior, advogado especialista em Direito Eleitoral, é membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), do Instituto Paranaense de Direito Eleitoral (Iprade) e da Comissão de Direito Eleitoral da OAB/PR Subseção de Toledo. Carlos Henrique Poletti Papi, advogado pós-graduado em Direito Eleitoral, é membro da Abradep e da Comissão de Direito Eleitoral da OAB/PR Subseção de Toledo.

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