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Essa é a pergunta do mês. Diante dos abalos na Rússia, do mais que provável aumento dos juros norte-americanos em 2015 e dos nossos problemas internos, a taxa de câmbio R$/US$ perdeu qualquer noção de equilíbrio. E se em tempos normais já é difícil prever o passeio aleatório que o câmbio faz, o que dirá em tempos de aumento da incerteza. Para onde vai o dólar?

Sem suspense e camomila para atenuar os ânimos, a tendência é que o real continue a se desvalorizar nos próximos meses. Os modelos de previsão indicam um câmbio médio no primeiro semestre de 2015 entre R$ 2,60 e R$ 2,80 por dólar. Ele terminaria o ano em uma banda um pouco mais estendida, entre R$ 2,55 e R$ 3,10, centrado em R$ 2,80. Ressalte-se que prever câmbio é sempre mais difícil do que qualquer outra variável macroeconômica, dado que ele está sujeito a um conjunto muito amplo de choques.

Não se sabe, por exemplo, por quanto tempo ainda o preço das commodities – e do petróleo, em particular – continuará caindo, com graves repercussões sobre os países emergentes. Os juros norte-americanos irão subir, mas não se tem indicação de quando isso de fato irá ocorrer. Além disso, no campo doméstico, como será feito o ajuste fiscal? Quais impostos serão elevados? Cide e CPMF voltam? E diante do quadro político desafiador, azeitado pela Operação Lava-Jato, será factível aprovar esse pacote fiscal no Congresso?

Todas essas questões têm algum papel no preço do dólar frente o real. A continuação da queda das commodities pode manter a Rússia e outros países dependentes desses produtos com baixo crescimento durante tempo não desprezível. Isso faz com que investidores aumentem sua percepção de risco em relação a esses países, o que leva a mudanças de portfólio e provoca efeito sobre o mercado de câmbio. O aumento dos juros norte-americanos nesse momento é como um oásis no meio do deserto: quem não quer títulos sem risco com tendência de aumento do seu prêmio? Mais pressão sobre o real.

Domesticamente, caso o ajuste fiscal que tem sido anunciado e defendido por Joaquim Levy não possa ser de fato executado, o Brasil corre sérios riscos de perder o grau de investimento. Com isso, menos investidores mandariam seus dólares para cá, o que elevaria ainda mais a pressão por desvalorização.

Além de todos esses fatores, é preciso prever a reação de outro ator importante: o Banco Central brasileiro. Mesmo que o repasse inflacionário da desvalorização seja baixo nesse momento – dado o baixo crescimento combinado com queda das commodities –, a projeção de inflação em 6,5% para 2015 reduz o grau de liberdade da política monetária. Desse modo, o banco terá de continuar a elevar juros – mesmo que com cautela – e continuar com a venda de swaps (ou mesmo reservas, caso as coisas piorem), buscando combater os efeitos da desvalorização. Tudo isso, claro, enseja ainda mais desafios para a cambaleante economia brasileira.

Em resumo, o real deve continuar a perder valor frente o dólar, o que provocará reação da autoridade monetária. Essa reação pode atenuar, em parte, a pressão por desvalorização, mas dificilmente conterá a tendência. Desse modo, não se espera alívio nos próximos meses, infelizmente.

Vítor Wilher, economista, é especialista do Instituto Millenium.

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