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Aviões são coisas charmosas, o símbolo supremo do poder e da pompa e aviões de governadores têm um charme especial. Viajar neles é a demonstração insuperável da intimidade com o poder

Na polêmica atual sobre a compra de um avião para o governador, não entendo uma coisa: se a utilidade de um avião para o principal executivo público do estado é óbvia e inquestionável, por que o governo paranaense, em vez de comprá-lo diretamente, resolveu mandar que a Copel – uma sociedade mercantil de direito privado, com obrigações em relação à totalidade de seus acionistas – o fizesse e o cedesse, por convênio para uso do governador. Não havia necessidade de adotar essas tortuosidades jurídicas para fazer algo que qualquer pessoa que analise o assunto sem partidarismo, aprovaria. Quanto aos que iriam analisá-la com partidarismo, a tarefa de convencê-los é inútil e, nesses casos, se obtém a aprovação legislativa e pronto.

Já não penso o mesmo em relação ao avião que o presidente da Assembleia pretende ter à sua disposição. O exercício da presidência do Legislativo se dá, formalmente, na capital do estado, conduzindo política e administrativamente o funcionamento da Casa de Leis. Argumentar que o Poder Legislativo, tal como o Executivo, tem uma abrangência estadual, o que obrigaria o presidente a deslocamentos frequentes, é um sofisma. Se aceito, logo se chegaria à conclusão de que também o presidente do Tribunal de Justiça, e quem sabe o procurador-geral do Ministério Público estadual e o presidente do Tribunal de Contas não pudessem passar sem suas próprias aeronaves.

Aviões são coisas charmosas, o símbolo supremo do poder e da pompa e aviões de governadores têm um charme especial. Viajar neles é a demonstração insuperável da intimidade com o poder. No Paraná, o avião governamental mais charmoso de todos os tempos foi o DC3, prefixo PP- EDL, que serviu a Lupion e depois a Ney Braga. O "Eco Delta Lima" na linguagem dos pilotos ou o "É do Lupion" na da população. Quando Ney resolveu trocá-lo, comprou um QueenAir e a oposição esperneou tanto que, intimidado, rapidamente ele o repassou para o IBC e continuou a usar o DC3. O Estado acabou comprando o KingAir que agora foi declarado inservível, no qual governadores voaram anos e anos. Quando se tratava de uma viagem mais longa, a Brasília, por exemplo, o governador simplesmente viajava no avião de carreira, o que, aliás, permitia que frequentasse aeroportos públicos e ficasse exposto ao contacto direto com a população, o que era altamente instrutivo e esclarecedor a respeito do que estava acontecendo no Paraná real pela voz dos próprios protagonistas.

Jayme Canet Junior inaugurou o uso de helicópteros, o que levou um locutor de uma cidade de interior a anunciar extasiado que se aproximava da cidade "o governador em sua nave espacial". Só a Secretaria de Transportes tinha um avião próprio. Osiris Stenghel Guimarães, o grande secretário que construiu mais de 4 mil quilômetros de rodovias em apenas quatro anos, vivia voando nele para cima e para baixo inspecionando frentes de obra. No entanto, pegar carona com ele era um dos erros mortais que alguém podia cometer. Certa vez, Antonio Luiz de Freitas, o secretário de Imprensa e Comunicação, precisava vir de Londrina para Curitiba urgentemente e pediu uma carona no avião de Osiris que estava decolando com o mesmo destino naquele momento. Osiris concordou, mas alertou-o de que precisava fazer um rápido sobrevoo em uma estrada em construção no trajeto. O rápido sobrevoo virou uma escala em Cascavel para uma bronca no empreiteiro. De lá partiram horas depois para Curitiba... com uma breve passagem para verificar a construção de uma outra rodovia no Sudoeste...e nesse ínterim, o aeroporto de Curitiba fechou. No dia seguinte, 24 horas depois de ter saído de Londrina, o Piper Navajo da Secretaria de Transportes pousou suavemente no Aeroporto do Bacacheri transportando o apressado Antonio.

P.S.: este artigo é uma homenagem a essas três figuras que souberam honrar suas passagens pelo governo estadual: Osiris, a quem alguém da oposição quis ridicularizar chamando de "Gigante do Asfalto" e sem querer o homenageou com o epíteto perfeito; Antonio Luiz de Freitas e o comandante de todos nós, Jayme Canet Junior.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.

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