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Os atentados de novembro em Paris trouxeram, além do unânime horror, a constatação do quão despreparado o Brasil está para evitar e reagir ao crime organizado. Permanecemos inertes diante dos exemplos dos perigos e problemas do terrorismo. Não temos cultura de prevenção. Empresas privadas e públicas pouco investem em políticas de segurança e proteção.

Os atentados de Paris são um grande alerta para todos, sobretudo para o Brasil. O terrorismo está mais próximo que se imagina. A vulnerabilidade gera a oportunidade. O que nos salva é a falta de valor do Brasil como patrimônio emocional para o mundo. Não fosse isso, estaríamos perdidos.

Esses atentados expuseram uma diversidade de pontos de vista sobre a segurança física da população e, em especial, a segurança da informação, apesar da falta de reais evidências do uso da internet e da tecnologia de criptografia para planejar ataques. A Europa é contra a espionagem e a favor da criptografia e do sigilo das informações. Os norte-americanos fazem espionagem (conforme anunciou o hoje “inimigo” Edward Snowden) e são a favor da quebra das tecnologias de criptografia. Alguns políticos chegam a culpar adversários pré-existentes: criptografia de internet, políticas de privacidade, falta de privacidade. Em certo sentido, essa tática de mudança de culpa é compreensível. Há bilhões de dólares investidos anualmente em proteção, espionagem e contraespionagem. Tudo com a missão de proteger as pessoas e as entidades. Quando há falhas, é claro que há a necessidade de culpar alguém.

O crime atualizou seus meios. Estamos mais vulneráveis

É difícil considerar a opinião dos norte-americanos. Há tempos exploram o medo e a raiva para avançar agendas políticas. Sempre querem vender suas tecnologias que oferecem privacidade para usuários da internet. Mas essas tecnologias seguem as exigências do governo norte-americano de acesso backdoor à comunicação de dados e à chave de criptografia. A indignação e o terror são oportunidades de negócio.

O Brasil pouco fez para melhorar sua cultura de prevenção. O Paraná é uma exceção. Duas entidades sem fins lucrativos desenvolveram em conjunto uma tecnologia para viabilizar acesso a uma política de segurança da informação. A Associação das Empresas de Tecnologia da Informação, Software e Internet (Assespro-PR) e a Associação de Usuários de Informática e Telecomunicações (Sucesu-PR) construíram um portal no qual suas empresas associadas podem gratuitamente obter um diagnóstico básico de suas vulnerabilidades. Além disso, formaliza para cada empresa uma política de segurança da informação com regras de sigilo, confidencialidade, responsabilidades e estabelece parâmetros quanto a racismo, pornografia, propriedade intelectual e até regras para acompanhamento de seus próprios colaboradores. Esse diagnóstico não resolve o problema, mas mostra onde se está. A tomada de decisão requer informações. A tecnologia foi desenvolvida por aqui e deverá, em breve, ter alcance nacional.

Os atentados na França mostram que precisamos de mais cuidados na proteção da nossa gente e das nossas empresas. O crime atualizou seus meios. Estamos mais vulneráveis. Devemos reagir com planejamento e confirmar os riscos com precisão sem ser tomados pelo pânico da opinião pública. Até porque queremos continuar sonhando com a Torre Eiffel, e não nos assustarmos com ela.

Fernando Misato é empresário e consultor para desenvolvimento de novos negócios em tecnologia da informação e internet segura.
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