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julgamento george floyd
Manifestantes protestam perto do Tribunal do Condado de Hennepin em 19 de abril de 2021 em Minneapolis, Minnesota, onde está sendo julgado o ex-policial Derek Chauvin| Foto: Scott Olson/Getty Images/AFP

Nesta semana, todos que celebram a vida, a justiça e a liberdade apoiaram a decisão da Justiça norte-americana quanto à condenação de Derek Chauvin. O ex-policial foi condenado pela morte de George Floyd, homem negro que morreu após ser asfixiado por nove minutos no estado de Minnesota, nos Estados Unidos. A decisão unânime foi do júri popular que analisou o caso. A frase agonizante de Floyd, “eu não consigo respirar”, repetida por mais de 20 vezes, saía da boca de um homem desarmado e imobilizado, saía da boca de uma pessoa que estava com o pescoço sob os joelhos do policial e a face sobre o asfalto da rua de Minneapolis.

Mais do que nunca, precisamos relembrar que toda espécie de racismo é, antes de tudo, pecado, e também crime contra os direitos humanos e nossa Constituição Federal. A Carta Magna declara: “todos são iguais perante ei, sem distinção de qualquer natureza”. Segundo a Lei 9.459/97, o preconceito racial é um crime. Todo tipo de preconceito, em especial o racial, precisa ser extirpado completamente de nossa sociedade.

Além de uma clara atitude criminal, o racismo é uma atitude pecaminosa, uma aberração cruel e desumana. Em Gálatas 3,28 está escrito: “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos são um em Cristo Jesus”. Eu, portanto, não sou melhor que ninguém por causa da cor da minha pele e ninguém é melhor por causa dela, porque Deus os criou assim. Paulo, escrevendo aos gálatas, sentenciou essas palavras. Dentro do contexto do Império Romano na época, a escravatura era uma realidade, mas, ainda assim, Paulo estava dizendo que diante de Deus todos estavam no mesmo nível.

Nelson Mandela, ex-prisioneiro político que se tornou presidente da África do Sul disse: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou por sua religião; para odiar as pessoas, precisamos aprender. Se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”. Então, é também uma questão de cultura e de educação mudar esta realidade. É preciso tocar neste assunto porque o racismo é real no Brasil e eu e você precisamos nos posicionar contra ele, e falar sobre este tema. Temos uma herança escravagista nas Américas, no Brasil e em todos os países do continente. Entre 1525 a 1876 foram trazidos da África cerca de 12,5 milhões de pessoas escravizadas para as Américas, sendo 3 milhões para o Brasil. Muitos não sobreviviam à travessia de dois meses até as Américas; 2 milhões morreram nos horrendos navios negreiros. Destes povos, muitos deles também foram capturados e oprimidos antes mesmo de os holandeses, franceses e portugueses terem chegado ao continente africano, por conta de guerras tribais e tensões internas. Houve os que venderam seus compatriotas como escravos e houve negros escravagistas. Sempre houve uma natureza pecaminosa habitando no coração do homem, é uma triste amostra desta realidade.

Infelizmente, mesmo tendo ocorrido há tantos anos, esta nossa história trouxe marcas na nossa cultura e até no modo de nos comunicarmos. Eu e você que nascemos no Brasil certamente já ouvimos avós, pais e a sociedade como um todo repetindo alguns termos que muitos de nós nem nos damos conta de virem de uma herança escravagista e preconceituosa. É preciso corrigir o que remete a essa realidade e transformar os traços culturais que apontem para o racismo no passado e no presente.

Seja um agente de justiça. Aja com justiça e não aceite nem tolere atos de racismo. Denuncie e nunca seja conivente. Somos todos iguais diante de Deus e diante dos homens.

O reverendo batista norte-americano Martin Luther King Jr., na sua lida pastoral, disse: “A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo lugar”. Por isso, não podemos ser coniventes com a injustiça, porque ela acaba se manifestando e, com isso, somos indiretamente responsáveis. Entenda: em todos os aspectos da vida humana, temos um Deus justo, que se manifesta como um justo juiz. Ele espera que eu e você, que cremos Nele e que temos a Palavra para nos pautar, sejamos homens e mulheres que não apenas vivem em justiça, mas que se posicionam pela justiça e condenam todo tipo de injustiça, em qualquer lugar e a partir da realidade onde estamos. Seja intolerante contra o racismo e toda espécie de injustiça. Só por ela todos poderemos respirar livremente.

Carlito Paes é mestre em Teologia, escritor e pastor batista.

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