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"A tendência é que a nova gestão tome decisões para agradar à opinião pública mundial, diminuindo a oposição em relação ao mandato de Bush e à sua retórica confrontacionista e belicosa."

O primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos está empossado. Assumiu o cargo com um programa que prega mudanças em relação a um presidente que sai do poder com uma das popularidades mais baixas da história. A alteração de rumo que Barack Obama pretende implementar será embasada em dois pilares: um de cunho econômico e outro político.

Em relação à economia, a grave crise financeira fez com que Obama formasse uma equipe de assessores bastante pragmáticos, que tem declarado a intenção de aumentar os investimentos governamentais na economia do país, privilegiando as empresas mais afetadas pela crise. O plano de Obama prevê a utilização da quantia restante dos recursos (US$ 350 bilhões) do plano de reestruturação econômica aprovado por Bush para incentivar os pequenos negócios e a moradia.

As dificuldades econômicas a serem enfrentadas pelo novo presidente, porém, são muito mais profundas que a atual crise econômica, que não é a causa dos problemas, mas sua consequência. O déficit dos Estados Unidos, estimado em US$ 1 trilhão, só poderá ser solucionado, de acordo com Obama, pela diminuição dos custos, principalmente com as campanhas no Oriente Médio, e com o reaquecimento da economia, o que aumentará a arrecadação.

Nessa linha de pensamento, outra perspectiva que se espera do novo governo é o aumento do protecionismo dos Estados Unidos, o que possibilitaria, também, a diminuição do déficit e, a médio prazo, auxiliaria no reaquecimento da economia. A manutenção de barreiras comerciais é vista como solução por diversos assessores, como Tom Vilsack, que ocupará o Departamento de Agricultura. Vilsack é ex-governador do estado de Iowa, um dos maiores produtores agrícolas do país e é a favor de produtos geneticamente modificados e da agricultura industrial, tendo sido um dos grandes apoiadores dos subsídios ao etanol de milho, o que prejudica, em muito, os interesses brasileiros.

O cenário político é ainda mais delicado. Nessa esfera, o objetivo principal do novo governo é a reconstrução do poder brando do país. Esse conceito, muito utilizado pelos elaboradores da política externa estadunidense, se refere ao poder de influenciar as decisões dos demais países pelo exemplo, pela atratividade à cultura e ao modo de vida americano. Obama precisa, assim, reconstruir a imagem dos EUA.

Para tanto, a tendência é que a nova gestão tome decisões para agradar a opinião pública mundial, diminuindo a oposição em relação ao mandato de Bush e à sua retórica confrontacionista e belicosa, típica da ideologia neoconservadora.

Uma das primeiras ordens de Obama deve ser o fechamento da base de Guantânamo na primeira semana de mandato. O fechamento efetivo da base, porém, deve levar meses, já que ainda não há clareza quanto à possível destinação dos cerca de 250 prisioneiros que lá estão.

Outro sinal importante de que os Estados Unidos adotarão uma retórica mais branda que a de GWB foi o discurso de Hillary Clinton na sua audiência de confirmação como secretária de Estado no Congresso, realizada no dia 13 de janeiro. Clinton destacou que pretende revitalizar a missão da diplomacia norte-americana, utilizando mais sabedoria na estratégia no Oriente Médio e dando ênfase a um maior pragmatismo, o que significa abandonar os discursos ideológicos de Bush. A tendência, portanto, é um aumento da ênfase em tratados multilaterais e nas iniciativas de controle de armas, por exemplo.

Mais especificamente, quanto à política no Oriente Médio, destaca-se a tendência à diminuição das tropas no Iraque e ao aumento da presença militar no Afeganistão, onde um trunfo grande ainda pode ser alcançado: a captura de Bin Laden, que continuará sendo o principal inimigo do país. Tal inclinação já vinha sendo adotada pela gestão de George W. Bush desde a nomeação de Robert Gates como secretário de Defesa, que será mantido por Obama.

Enfim, o que se espera do novo governo é uma política mais moderada, de cunho pragmático e mais realista que a da desastrada gestão Bush. Em um primeiro momento, a tendência é uma concentração de esforços no restabelecimento da economia doméstica para que, a partir daí, a atenção seja voltada à reconsolidação da liderança norte-americana no sistema internacional, o que será buscado pela utilização do poder brando, e não do unilateralismo radical de Bush.

A mudança, portanto, será nos meios, mas os fins continuaram os mesmos.

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