• Carregando...

Natal e ano-novo, que acabamos de comemorar, são momentos especialmente carregados de esperança. Mas, pelo espetáculo que vem se apresentando diante dos nossos olhos, não de agora mas de anos, que expectativas alimentar sobre o futuro próximo do nosso país?

A política brasileira, cuja missão maior deveria ser propor avanços ao país, virou meio de vida, comércio, dominando interesses particulares, fisiologismo e clientelismo sem escrúpulos disseminando-se nos três poderes, como revelaram as últimas CPIs e a recente iniciativa dos deputados federais e senadores de aumentar seus ganhos, quando a imensa maioria da população tem renda suficiente apenas para comer, morar e se vestir.

Nossos parlamentares deveriam tomar lições com o presidente da Costa Rica, Oscar Arias, Prêmio Nobel da Paz em 1987, que decidiu doar o seu salário – US$ 8.400 (cerca de R$ 17 mil) – a entidades beneficentes. Que não chegassem a tanto, mas também não precisavam, na calada da noite, elevar seus salários em mais de 90%, como se estivessem na miséria e os recursos que recebem como auxílio-moradia, combustível, transporte e pagamento de assessores nada representassem.

O governo e o Legislativo têm se revelado reticentes para fazer as reformas na estrutura dos sistemas político, administrativo, previdenciário, tributário, corrigindo distorções, alinhando a máquina pública com os novos tempos e exigências éticas. A maior preocupação do nosso Estado tem sido arrecadar, elevando a carga tributária, amealhando somas espantosas, gastando sem controle, e, como se não bastasse, atrapalhando o setor privado com impostos excessivos, juros abusivos e parafernálias de exigências fisco-legais. Somente agora as micro e pequenas empresas, que somam mais de 90% do universo das empresas, vieram a ganhar uma legislação estimuladora, a Lei Geral, mas que só entrará em vigor em julho de 2007, correndo risco de cair no limbo.

Por falta de clareza em sua gestão e de sintonia desta com os interesses da população, é que o Brasil vem caminhando com o freio de mão puxado, registrando taxas semelhantes às de países completamente desgovernados, como o Haiti.

Reflexo da inexistência de prioridades, temos um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) simplesmente incompatível com o PIB nacional. O país gasta mais com serviços da dívida (8,9% do PIB) do que com educação (4,1% do PIB) e saúde (3,4% do PIB) juntas. Nossos serviços públicos desconhecem o conceito de qualidade. Por isso há caos no sistema aéreo, filas nos hospitais e número crescente de mortes violentas; nesse último caso, conseqüência da não-resolução de contradições sociais agudas e da falta de investimentos em segurança.

Nesse ambiente obscuro, os próprios brasileiros perderam a percepção do que mais importa, como revela o Ibope: 44% não querem saber como é aplicada a verba da educação; a rotina da escola não é acompanhada por 73% dos pais; e 29% dos alunos não conhecem os exames de avaliação da educação básica; enfim, contrariando a robusta tese de Cristóvam Buarque, educação não seria ferramenta para se vencer na vida.

Reina, pois, uma certa dificuldade em se confiar que mudanças importantes venham a ocorrer de uma hora para outra. Não quer dizer que não devamos sonhar. Não custa alimentar sonhos, mesmo porque cabe a nós brasileiros impedir que as coisas continuem assim, sendo um bom exemplo a pronta reação contra a postura corporativa dos parlamentares. E como entre Natal e ano-novo temos sido "presenteados" com pacotes que trazem surpresas desagradáveis, é recomendável manter a atenção. O presidente Lula deverá anunciar novidades, nos próximos dias, prometendo, entre outras medidas, redução de impostos. É possível?

Maurício Fernando Cunha Smijtink é contador, empresário da contabilidade e presidente do CRCPR.

mauricio@crcpr.org.br

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]