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O setor agrícola paranaense é considerado sinônimo de eficiência no país, utilizado em muitas situações como modelo a ser seguido. No entanto, a agricultura do Paraná abriga parcela considerável de sua população rural em condição de pobreza extrema e de pobreza, segundo os critérios oficiais de classificação.

No Brasil, uma família é considerada em situação de extrema pobreza se a renda per capita mensal de seus membros é de até um quarto do salário mínimo, e na condição de pobreza se a renda per capita mensal for de até metade do salário mínimo.

De acordo com dados do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), 444 mil famílias paranaenses eram beneficiárias do Programa Bolsa Família, do governo federal, em dezembro de 2011 por estarem na condição de extrema pobreza e de pobreza. Esse conjunto de famílias representava uma população de 1,4 milhão de pessoas, em torno de 13,5% da população estadual residente. O Censo Demográfico de 2010 revelou que 500 mil pessoas de 10 anos ou mais de idade, de um total de 1,3 milhão de pessoas residentes na área rural, não registraram nenhum rendimento. Outras 462 mil pessoas da área rural registraram rendimentos de até um salário mínimo. É possível deduzir que uma parcela significativa de pobres ou extremamente pobres no Paraná está localizada nas áreas rurais.

O interessante é que qualquer referência que se faça ao setor agrícola do Paraná está sempre estará associada ao bom desempenho do agronegócio. Entretanto, as informações oficiais revelam a existência de um Paraná rural pobre.

De acordo com os dados do último Censo Agropecuário de 2006, 96 mil estabelecimentos rurais (26% do total) registraram um valor bruto de produção médio de R$ 1 mil que representou um valor médio mensal de R$ 83,36, equivalente a um quarto do salário mínimo vigente em 2006 (R$ 350). É possível afirmar, portanto, que 26% dos estabelecimentos agropecuários paranaenses encontravam-se na condição de extrema pobreza. Além disso, outros 93 mil estabelecimentos (25% do total) registraram, em 2006, um valor bruto de produção médio mensal de R$ 478, equivalente a 1,37 salário mínimo, muito próximo da condição de pobreza. Como esses números não refletem a renda per capita mensal, mas o valor do produto médio mensal gerado pelo estabelecimento, é possível afirmar que em torno de 50% dos estabelecimentos rurais do Paraná encontram-se na condição de extrema pobreza e de pobreza. Esses dados reforçam o último Censo Demográfico, já que praticamente nada foi alterado neste período (2006-2010).

A baixa capacidade de geração de valor da produção poderia explicar esse outro Paraná Rural, no qual a taxa de analfabetismo é o dobro (10%) da verificada na área urbana (5%).

Esse cenário reflete o modelo de gestão adotado no Brasil e no Paraná, que prioriza ações de curto prazo e políticas imediatistas, que normalmente não têm continuidade, ou com escala reduzida, por exemplo, o acesso à assistência técnica. Assim, dificilmente a equalização dos dois Paranás Rurais será alcançada apenas com a adoção de políticas de transferência de renda ou de crédito para custeio da produção. É necessária a adoção de estratégias de longo prazo, que tenham por objetivo a mudança dos elementos estruturais que poderiam elevar a produtividade agrícola. Além disso, nas situações em que as características estruturais dos estabelecimentos não permitissem a elevação da produtividade, a estratégia deveria voltar-se para a diversificação das fontes de geração de renda, promovendo a integração da renda agrícola com atividades não agrícolas que aproveitassem o bom momento da economia.

Junior Garcia, professor de Economia da UniBrasil, é doutor em Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente pela Unicamp.

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