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Felipe Lima

Nas horas mais difíceis, é sempre pertinente demarcar o reconhecimento e a valorização de instituições que lutam com muita dificuldade para cumprir suas missões. Em especial, esse é o caso do Batalhão de Polícia Ambiental do Paraná (BPAmb). No evento de comemoração dos 60 anos do batalhão, realizado em Curitiba no dia 12 de abril, foi marcante a ênfase dada à importância para toda a sociedade do esforço de proteção do patrimônio natural do Paraná, lembrando com propriedade do direito das gerações futuras em desfrutar o que nos oferece a natureza.

De fato, cabe como nunca enaltecer a importância de ações de controle e de fiscalização frente a crimes ambientais como o desmatamento, o extrativismo e a caça. Justamente pelas atuais circunstâncias, em que os excessos gerados por influências políticas de grupos setoriais nos atuais governos impõem situações que limitam e cerceiam a plena condição de trabalho dos que têm por missão proteger o meio ambiente.

Decorridos já seis meses da assinatura do fatídico convênio, nenhuma mudança foi implementada

O tradicional convênio entre o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e o BPAmb não foi honrado desde o início da gestão anterior (2012-2015). Essa decisão limitou em verbas e em condições de execução plena de suas funções o único destacamento de profissionais que hoje tem condições de agir na minimização de crimes contra a natureza no Paraná. Apenas no fim de 2016, depois de enorme pressão de diferentes instâncias da sociedade, lideradas pelo Ministério Público Estadual, um novo convênio foi assinado, com a promessa de que finalmente haveria uma mudança de postura da gestão estadual, permitindo ao BPAmb uma condição adequada de atuação.

Lamentavelmente, decorridos já seis meses da assinatura do fatídico convênio, nenhuma mudança foi implementada. E, insistentemente, a condição frágil de proteção da natureza no Paraná continua sendo parte de nossa realidade. Mesmo assim, para surpresa de muitos, o discurso proferido pelo governador do estado nesse evento comemorativo mostrou uma situação inversa à realidade: para ele, o BPAmb recebe todo o apoio de seu governo, e as funções de educar a população e controlar ilícitos são iniciativas que são valorizadas e contam com o lastro governamental.

Sem contestações do público presente, apesar das incoerências relatadas, sua saída no meio do evento deixou a plateia com uma dúvida no ar: ou o atual governador imagina que, com discursos descrevendo cenários plenos de realizações, consegue convencer a população de que isso realmente ocorre, nos enxergando ingênuos ou ignorantes; ou está sendo ludibriado por seus assessores mais próximos a partir de histórias ficcionais, que de pronto nos são repassadas em suas interpelações públicas, sem checar a veracidade dos fatos.

Seja qual for a alternativa que os leitores escolham como a mais provável, no fim das contas há apenas uma conclusão a ser confirmada: já passaram de todos os limites os prejuízos para o bem comum provocados pela atual gestão ambiental do governo do estado do Paraná. Em comemoração e em respeito aos honrosos 60 anos do BPAmb, cabe um rechaço clamoroso ao que vem ocorrendo nos últimos anos. Há de ser estabelecido o devido espaço para chamar à responsabilidade todos os coniventes com essa condição de precariedade sem precedentes em que nos encontramos.

Clóvis Borges é diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS).
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