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Assistencialismo virou vício, segurança virou piada e educação virou doutrinação. O populismo de esquerda prometeu futuro e nos entregou atraso. Dizem que o Brasil é o país do futuro. Talvez até seja — mas só se o futuro for uma reprise malfeita das ideologias fracassadas do século passado.
A esquerda brasileira decidiu que administrar o país seria como brincar de museu: revirou as gavetas empoeiradas do socialismo e resolveu aplicar, em pleno século XXI, fórmulas que já haviam levado outros povos à ruína.
Na educação, quem dá as cartas é Antonio Gramsci. O pensador italiano, que nunca pisou em nossas salas de aula, transformou-se em santo padroeiro do MEC. Resultado: estudantes saem sabendo gritar palavras de ordem, mas não conseguem resolver uma equação de segundo grau.
A hegemonia cultural virou prioridade, e o que era para ser escola transformou-se em extensão partidária. O futuro que nos prometem? Jovens cheios de diplomas, mas incapazes de competir no mundo real — porque a prioridade foi formar militantes, não cidadãos críticos.
Na economia, a inspiração vem de Karl Marx, ainda que de forma profundamente equivocada. Marx, afinal, nunca concebeu o Estado como protagonista absoluto; ao contrário, sua crítica mirava as estruturas de dominação econômica.
O que a esquerda brasileira fez foi distorcer essa leitura para criar um Estado hipertrofiado, que se apresenta como pai, mãe e tutor do cidadão. Acrescentaram a isso pitadas do populismo de Getúlio Vargas, sempre pronto a distribuir favores em troca de lealdade política. O resultado é a mesma receita velha: gastar o que não se tem, manter o cidadão dependente e depois culpar o capitalismo quando a conta chega.
O assistencialismo virou vício. O trabalhador é tratado como explorador, o empreendedor como inimigo do povo, enquanto o Estado se apresenta como salvador da pátria.
O Brasil poderia estar investindo em inovação e produtividade, mas prefere cultivar a dependência crônica. É o socialismo tropical: você paga a conta, eles ficam com o discurso.
Na segurança, a obra-prima do populismo foi importar o garantismo penal, ideologia formulada pelo jurista italiano Luigi Ferrajoli. Nascida na Europa do pós-guerra como reação legítima aos abusos de regimes autoritários, sua proposta original era limitar o poder punitivo do Estado e proteger os direitos fundamentais.
No Brasil, contudo, essa teoria foi distorcida em uma caricatura tropical: virou escudo para criminosos e algema para cidadãos de bem. Em vez de equilibrar justiça e direitos fundamentais, transformou-se em sinônimo de impunidade.
O raciocínio é sempre o mesmo: bandido é visto como vítima da sociedade, enquanto a verdadeira vítima é esquecida. Essa inversão moral abriu as portas para facções criminosas se infiltrarem em todos os poderes, fragilizando o Estado e desacreditando a lei. Na prática, o garantismo à brasileira só garantiu uma coisa: a liberdade de quem deveria estar atrás das grades.
O populismo de esquerda é como aquele parente inconveniente que nunca vai embora: promete mundos e fundos, quebra a casa inteira e ainda culpa os outros pelo estrago. O Estado virou um parasita, sustentado por narrativas vitimistas e pela ignorância cuidadosamente cultivada nas escolas e universidades.
O Brasil não está preso por falta de ideias novas, mas por apego às piores velharias ideológicas
Continuamos insistindo em fórmulas que falharam em todos os lugares onde foram testadas — mas que aqui, embaladas com samba, slogans e campanhas publicitárias milionárias, ainda conseguem arrancar aplausos. Se quisermos sair desse looping de mediocridade, precisamos de coragem para trancar, de uma vez por todas, o museu das ideias mortas. Mas, convenhamos, coragem nunca foi o forte dos populistas.
E, por fim, este recado é para você, eleitor que acreditou nas promessas em 2002, repetiu o voto em 2006, confiou de novo em 2010, insistiu em 2014 e, em 2022, resolveu entregar mais uma vez o país aos mesmos.
São mais de duas décadas de poder concentrado, de indicações políticas, de um Estado cada vez mais inchado e de políticas públicas que fracassaram em segurança, educação e economia.
Enquanto os cidadãos de bem seguem trancados em suas casas, os criminosos desfilam pelas ruas. Enquanto o país se endivida até o pescoço, você paga a conta. A pergunta que fica é simples: até quando vai aceitar repetir os mesmos erros esperando resultados diferentes?
José Maurício de Lima, advogado, administrador, árbitro e mediador, é mestre em Filosofia e professor do IDP-Brasília.



