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As estatísticas de Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro relativas ao terceiro trimestre de 2006, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmam os prognósticos correntes de que o país estaria trilhando o caminho da terceira década perdida, considerando variável crescimento, e perdendo a chance de encaixe no maior ciclo curto de expansão da economia mundial desde o intervalo 1970–1973.

O PIB do país cresceu 2,5% entre janeiro e setembro de 2006 frente a idêntico período de 2005, com variações de 2,7% na indústria, 2,5% na agropecuária e 2,3% em serviços. Em idêntico intervalo, o PIB da China, Índia e Rússia, países que formam com o Brasil o grupo conhecido como BRICs, registrou aumento de 10,4%, 9,2% e 6,6%, respectivamente.

No setor industrial, os melhores desempenhos ocorreram em extração de minerais e construção civil (em virtude da combinação entre redução de impostos e de juros, aumento das linhas de financiamento, ciclo eleitoral e aumento da demanda reprimida), que exibiram acréscimos de 5,6% e 5,0%, respectivamente, tendo a indústria de transformação crescido apenas 1,4%. A ampliação da indústria de transformação foi puxada por máquinas para escritório e equipamentos de informática (53,7%), seguida pelas atividades extrativas (7,4%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (12,0%), alimentos (2,0%), refino de petróleo e produção de álcool (2,9%) e bebidas (6,9%). Dentre as categorias de uso, o destaque coube à produção de bens de consumo duráveis (6,3%), efeito do mix aumento da oferta de crédito, especialmente da modalidade em consignação, e elevação da massa de rendimentos (emprego e salário real, particularmente do salário mínimo), e de bens de capital (5,0%), resultado da reação localizada de alguns itens de investimento.

A fabricação de bens de consumo semi e não duráveis variou 2,6%, praticamente na média da indústria geral (2,7%), fruto das majorações do valor real do salário mínimo e dos programas de transferência de renda, enquanto a de bens intermediários cresceu apenas 2,0%, em razão da saturação da capacidade produtiva de alguns insumos básicos e da prevalência do ambiente inóspito para a efetivação de novos investimentos.

A impulsão da capacidade de compra de bens de consumo leves foi também motivada pelo declínio dos preços dos produtos básicos, por conta da apreciação cambial, em face da determinação dos preços nos mercados externos, e pela austeridade monetária baseada em juros reais elevados, ampliando custos financeiros e comprimindo a rentabilidade privada e abrindo flancos para o aumento das importações.

Em paralelo, a manutenção do fôlego de alguns ramos ligados às exportações pode ser imputada à sua utilização como válvula de escape ao ainda moderado ritmo de acréscimo da demanda interna, sendo a ausência de alterações setoriais substantivas na pauta atribuída à insuficiência de investimentos.

O fraco desempenho da agropecuária advém da combinação entre problemas climáticos (que afetaram as lavouras dos estados do Sul), precariedade das condições, escoamento e insuficiência de itens de suporte da produção, notadamente crédito, seguro, preços mínimos, vigilância sanitária, assistência técnica e crescente valorização cambial.

A propósito desse último ponto, a discrepância nas cotações cambiais entre o período de plantio e colheita, implicou desequilíbrios da estrutura de preços setoriais, marcados pelo acréscimo dos custos de produção (fertilizantes, defensivos, etc.) e a desvalorização das cotações dos produtos finais em reais, e crise de liquidez e de endividamento dos produtores.

Pela ótica da demanda agregada, os incrementos foram de 6,0% na formação bruta de capital fixo (FBKF ou taxa de investimento), de 3,7% no consumo das famílias e de 1,9% nos gastos do governo (excluindo as transferências). Ainda nessa equação, do lado das transações com o exterior, as importações exprimiram impulsão de 16,1% contra 5,3% das exportações.

A recuperação dos investimentos deve ser encarada com cautela, por estar demasiadamente concentrada nas áreas mais articuladas à construção civil, à distribuição de energia e às indústrias de informática e petrolífera, e partir de uma base bastante deprimida pelos enormes custos tributários e financeiros incidentes sobre as aplicações em ativo fixo e instalações no Brasil.

Enquanto isso, a produção de equipamentos para a agricultura, telecomunicações e transportes exibem rota cadente, permitindo aquilatar as perdas ocasionadas pela compressão da rentabilidade física e financeira da agricultura, e a formação e/ou perpetuação de gargalos infra-estruturais ao crescimento sustentado.

Estatísticas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) relativas ao período janeiro-setembro de 2006, em confronto com o mesmo intervalo de 2005, demonstram queda no faturamento real da indústria de bens de capital seriado e do consumo aparente de máquinas no país de 3,2% e 1,2%, respectivamente.

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