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Avaliar tem a ver com aprovar ou não os educandos. Mas esse não deve ser o único motivo, talvez nem o principal. Tão ou mais importante que medir o quanto sabem os alunos é obter dados que permitam repensar as abordagens educacionais adotadas. Se possível, que ao avaliarmos possamos conhecê-los melhor e, porque os conhecemos e os reconhecemos individualmente, sejamos capazes de traçar percursos de aprendizagem adequados para eles.

Nas abordagens mais comuns, boa parte das avaliações se dá por meio de questões que pretendem responder se o aluno sabe ou não sabe. Em geral, importa quase que exclusivamente se as repostas estão certas ou erradas. Normalmente, as respostas erradas são inúteis do ponto de vista das consequências no processo em curso. O fruto da avaliação, nesta perspectiva mais simplista, não passa de um atestado que pretende informar se o estudante domina aquele conteúdo.

Para os professores mais comprometidos, as respostas erradas têm a mesma relevância que as certas. Se as certas atestam domínio do conteúdo, as erradas permitem identificar lacunas, conceitos equivocados, ritmos inadequados de aprendizagem, dificuldades em interpretar texto, falta de foco e concentração.

Celebremos os docentes que avaliam para aprovar ou reprovar, mas que vão além

Na verdade, não somente respostas importam: elas se somam a um conjunto de atos, comportamentos, velocidades, reações e capacidade de enfrentar desafios que evidenciam habilidades muitas vezes difíceis de serem identificadas via teste padrão. As provas tradicionais enxergam, quando bem feitas, se as informações foram ou não assimiladas. As demandas do presente, e especialmente do futuro, vão além da informação pura e tendem a não ter esse elemento como parâmetro central. Avaliar não ficou mais simples; ficou mais complexo.

A título de exemplo, uma comparação com o jazz. Observe bandas de jazz e perceba que o público sabe identificar diferenças entre as que têm qualidade de outras com menor valor; e, se todos os componentes tocarem solo, será possível identificar quem toca bem e quem não toca tão bem. Insisto na comparação para destacar que avaliar implica estimular o trabalho em grupo, ressaltando o quão essencial é criar em equipe, mas que tal processo também demanda individualizar, permitindo perceber o que cada um fez ou deixou de fazer. Assim, nas boas performances de jazz, cada instrumentista é convocado a tocar separadamente. Neste caso, é esperado que o solo contenha os compassos da música, evitando os riffs, frases curtas e repetidas de poucas notas. Mesmo assim, talentosos músicos saberão tocar riffs com competência, alterando notas e tempos.

Da diversidade e da pluralidade nascem equipes fantásticas, em que talvez nenhum dos integrantes, individualmente, seja tão diferenciado. Às vezes, o mais discreto e não o mais habilidoso pode ser a mola propulsora do grupo. Há, por outro lado, casos de junção de bons músicos sem os resultados esperados.

Celebremos os docentes que avaliam para aprovar ou reprovar, mas que vão além. Eles o fazem para conhecer melhor os educandos e, ao conhecê-los, podem traçar trajetórias que reflitam os caminhos mais adequados de um processo de aprendizagem que demanda ser personalizado, ainda que conjugado com grande escala. Parabéns especiais a esses professores que viabilizam quantidade e qualidade e entendem que todos aprendem, sempre, mas cada qual aprende na sua maneira única.

Ronaldo Mota é reitor da Universidade Estácio de Sá e diretor-executivo de Educação a Distância da Estácio.
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