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O ataque de surpresa do comando dos guerrilheiros do Movimento de Libertação dos Trabalhadores Sem-Terra (MLST) ao Congresso, articulado em sigilosa premeditação pelos líderes da baderna, não buscou a justificativa de qualquer reivindicação para a violência demencial dos vândalos da tropa dos mais de 500 invasores que agrediram servidores, ferindo 26, quebraram vidros e computadores, destruíram portas.

Não erraram o alvo na escolha do inimigo mais fraco e vulnerável. A desmoralização do Legislativo, prenúncio da crise institucional que esmurra e escoiceia a porta, soa o alarme para a urgência de uma avaliação, que se impõe no pior momento, quando a campanha eleitoral começa a aquecer e o favoritismo do presidente-candidato à reeleição acutila a oposição, que não sabe o que fazer com o seu correto e insosso candidato, Geraldo Alckmin, que não sai do chão e, ao fim de três meses de exposição, perde pontos nas pesquisas.

Para piorar o soneto, a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em interpretação rigorosa e exata da regra da verticalização, impondo a coerência na coligação nacional dos partidos que deve ser estendida aos estados e proíbe a coligação com partidos sem candidato a presidente, aumentou a confusão na fase preliminar da campanha, quando os acertos e alianças começavam a ser fechados. Não é fácil exigir de legendas, que são sacos de gatos de contradições estaduais, a conversão de uma hora para outra à rígida disciplina de siglas nacionais.

Mas são dois episódios aparentemente distintos que se cruzam no quadro de desordem nacional.

Claro que não há desculpa decente para o desatino do MLST e de seus alucinados e irresponsáveis dirigentes, que não se pejaram de usar 42 crianças como escudo na surtida contra o Congresso. A boçalidade da selvageria está sendo apurada com severidade e rapidez e promete para dez dias a conclusão do inquérito da Polícia Legislativa.

Mas, por que o Congresso? Como lembrou a senadora Heloísa Helena, presidente do Psol, se a gangue do MLST está insatisfeita com a lentidão da reforma agrária, os protestos e reclamações deveriam ser encaminhados ao Palácio do Planalto.

Pois nem o destrambelhado presidente da facção dissidente do MST, Bruno Maranhão, ou os seus braços esquerdos, filmados nas reuniões em que discutiram e aprovaram as táticas de assalto ao Congresso, sequer citaram o presidente Lula ou o governo nas críticas e acusações.

A incômoda berlinda em que se instalou o Congresso amplia a denúncia da desmoralização a que ele foi arrastado na cadência de anos de lamentável comportamento. As facilidades das mordomias, vantagens e demais regalias que compõem o modelito de um dos melhores empregos do mundo corroeram como cupim a respeitabilidade do mais democrático dos poderes. Até a decadência que excita a pilhagem dos setores marginais da sociedade.

Os últimos anos, desde a campanha de 2002 aos três anos e meio do governo Lula, a sucessão de escândalos, a onda de corrupção do financiamento de campanha com as mutretas do caixa 2 e do mensalão, com os anexos da roubalheira das ambulâncias superfaturadas enlameando dezenas de deputados e a imundície das rapinagens apuradas pelas CPIs têm sido funestos para o Congresso. Especialmente para a Câmara, mais exposta ao despudor das jogadas do baixo clero e levada ao esgoto da desonra com o festival de impunidade no conluio do PT e aliados para a absolvição em série dos denunciados pelas CPIs e pela Comissão de Ética.

Nos ensaios das arengas de campanha, os candidatos à renovação do mandato para mais quatro anos de pouco serviço e muitas vantagens, o tema da reforma política promete ser um dos carros-chefes do corso das promessas.

Puro engambelo para entreter o eleitor desatento. O Congresso não tem as condições mínimas para enfrentar a sério o desafio do seu infortúnio. E pela simples e definitiva razão que a esmagadora maioria da Câmara e do Senado não abre mão das regalias e das mordomias que enfeitam e adoçam a vida folgada do parlamentar no lusco-fusco da degringolada institucional.

O máximo que o medo ou o rubor da vergonha pode ambicionar são os clássicos remendos da dissimulação. E que vêm freqüentando as especulações dos apreensivos bem-intencionados. Ninguém, rigorosamente ninguém, sequer sugeriu as medidas radicais para restauração da dignidade da atividade parlamentar, como o corte da imoralíssima verba indenizatória de R$ 15 mil para o ressarcimento das despesas de fim de semana, as quatro passagens semanais para que suas excelências visitem a família e os eleitores, o que oficializa as semanas de dois a três dias úteis e todo o cacho de mordomias, vantagens, regalias e espertezas.

Desse jeito, uma dia a casa cai.

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