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Recentemente desfrutamos de um enorme privilégio. Estar sentados ao lado de nosso amigo, sr. Moysés Jakobson, um sobrevivente do Holocausto em uma palestra que proferiu sobre o tema. Durante uma hora, ouvimos sua história. Uma verdadeira saga de horrores, barbáries e sofrimentos, mas também de sobrevivência, coragem e superação.

Enquanto o palestrante narrava suas tristes e insólitas experiências, observamos atentamente as expressões da plateia, composta, em sua gran­­de maioria, por jovens. Da posição onde nos en­­contrávamos, podíamos olhar diretamente para suas faces. O que vimos foram rostos estupefatos marcados pela revolta, pela indignação e pela surpresa diante de um fato histórico que demarcou o ápice da crueldade do homem para com o homem.

Ao final da exposição, no momento das perguntas, um dos jovens dirigiu-se ao sr. Moysés e perguntou-lhe: por que o senhor faz isso? Por que nos conta esta história tão cheia de dor e sofrimento acontecida há mais de 60 anos?

Por um momento, o palestrante refletiu e depois, olhando ternamente o aluno, respondeu: para que a chama do amor, da fraternidade e do respeito entre os seres humanos permaneça acesa e para que acontecimentos como esses ja­­mais ocorram novamente, seja contra judeus, ci­­ganos, homossexuais, negros, ou quaisquer outros povos sobre a face da Terra.

A máquina de extermínio nazista constituiu-se em um processo de crueldade sem precedentes na história humana. De forma amplamente documentada, suas ações, amparadas pelas leis vigentes à época, de frágeis bases jurídicas, sancionadas no interesse do regime, culminou na eliminação de grupos étnicos minoritários sustentada por precários conceitos de supremacia racial.

Pessoas comuns foram simplesmente arrancadas de suas casas e de suas famílias e levadas a campos de concentração e ou extermínio. À direita a vida. À esquerda a morte. Auschwitz-Birkenau, Belzec, Majdanek, Solibór e Treblinka exterminaram, de forma sistemática, 7,2 milhões de pessoas, das quais 6 milhões eram judeus. Aos sobreviventes, restou a difïcil tarefa de refazer suas vidas após tamanho infortúnio.

Seria de presumir que as pessoas que sobreviveram a tragédias como esta se tornassem rancorosas, revoltadas e nutrissem um ódio intenso. Não é o que acontece. O sr. Moysés é claro e terno em suas palavras e, principalmente, em suas atitudes. Sua vida é dedicada a fazer o bem ao próximo.

Enquanto o assistíamos, pensávamos conosco mesmos que estávamos ao lado de um ser humano real, ali, naquele instante, narrando fatos de sua sofrida juventude e não diante de um livro, documentário ou filme, mas de um homem de carne e osso, testemunha viva do genocídio.

Neste momento não podemos deixar de pensar na visita do sr. Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã, ao Brasil. Por um instante, acalentamos a esperança de que esta seria a oportunidade para abordarmos consigo esta questão.

De forma reiterada, Ahmadinejad vem negando a ocorrência do Holocausto e disseminando, tal como Adolf Hitler, um virulento am­­biente antissemita. E, como se isso não bastasse, faz ameaças verbais e constantes questionando a existência de Israel, uma democracia legítima incrustada em meio a teocracias de conceitos medievais, e consolidada mediante a Declaração Balfour, datada de 2 de novembro de 1917, reconhecendo o direito histórico do povo judeu à terra de Israel, e da votação da Assem­­bleia-Geral das Nações Unidas de 29 de novembro de 1947 (presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha), que determinou a partilha da Palestina, ainda sob domínio do império britânico, em dois estados, um judeu e outro árabe. Medida imediatamene acolhida pelos primeiros e rechaçada pelos segundos.

Não podemos imaginar as razões que levam Ahmadinejad a fazer isso. Conhece, com absoluta certeza, a história dos judeus no mundo inteiro e especialmente aqueles de seu país, os judeus da Pérsia, conhecidos como "parsim". Tem capacidade para avaliar as imensas e inegáveis contribuições judaicas à cultura universal. Por que não se junta a Angela Merkel, chanceler da Alemanha, que admite e procura propagar a verdade?

O que faz o sr. Ahmadinejad é antirreligioso. É com certeza anti-islâmico. Conseguimos facilmente perceber porque o sr. Moysés Jakobson faz o que faz. E o senhor Ahmadinejad, por que faz isso?

Manoel Knopfholz é presidente da Federação Israelita do Paraná; Ester Proveller é presidente da Comunidade Israelita do Paraná; Leon Knopfholz e Isaac Cubric são, respectivamente, presidente e primeiro-secretário da Loja Chaim Weizmann da B’nai B’rith do Paraná.

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