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No momento atual, como professor, sou instigado a me pronunciar sobre as eleições. Nos meus quase 30 anos de docência nunca manifestei em sala de aula minhas preferências partidárias, mas minhas opções políticas sim. Uma destas opções é uma determinada postura frente à diversidade. Tenho uma elevada autoestima, mas reconheço que se todos fossem iguais a mim, a humanidade seria pobre e chata. Por isso a diversidade ética – aquela que respeita e acolhe as pessoas diferentes – é uma grande riqueza da humanidade, nosso maior tesouro.

A perspectiva da diversidade ética exige muita virtude dos que estão na condição de maioria, pois estes não podem confundir o comum como “normal”, o predominante como “certo”, o usual como “padrão obrigatório”. Estes precisam aprender que as condições humanas diversas nos levam a crer de muitos modos e mesmo a não crer; nos instigam a muitos hábitos alimentares possíveis (onívoros, vegetarianos, veganos...); a direcionar o nosso afeto para múltiplos perfis; a fazer análises históricas (e político-partidárias) a partir de diferentes ângulos, a partir do local onde nos situamos.

A perspectiva da diversidade ética exige muita virtude também dos que estão na condição de minoria

Quando a maioria não respeita a diversidade – quer negá-la, combatê-la – desencadeia um processo perigoso, pois quem assume o poder com esta visão se apresenta como norma para os outros. Isto tem ocorrido constantemente na história: os outros viram “bárbaros”, “bruxas”, “inferiores”, “escravos”, “infiéis”, “raça degenerada”, “primitivos”, “decaídos”, “estrangeiros”, “impuros”... A história está cheia destes exemplos e os causadores de tais catástrofes usualmente se autodenominavam “civilizados”, “religiosos”, “superiores”, “cidadãos”, “crentes em Deus”, “raça pura”, “nacionalistas”, “santos”... Precisamos continuar repetindo esta visão de mundo e promover novas catástrofes?

A perspectiva da diversidade ética exige muita virtude também dos que estão na condição de minoria, pois estes não podem se apresentar como um “novo padrão”, um “novo normal”, como a “síntese evolutiva de padrões anteriores”. Quando a minoria não respeita a diversidade ela se torna contraditória, pois nega também o diverso de si e aponta para uma ditadura inversa.

Leia também: A segregação voltou com tudo ao câmpus, e os acadêmicos esquerdistas fizeram isso acontecer (artigo de Walter E. Williams, publicado em 30 de setembro de 2018)

Leia também: Termostato da diversidade (artigo de Flavio Gordon, publicado em 7 de janeiro de 2018)

A nossa maior dificuldade é que, na nossa insegurança, queremos convencer a todos que estamos certos e para isto desqualificamos os diferentes. Não poderíamos apenas viver com alegria nossa opção? Compreender que é uma opção genuína, uma possibilidade autenticamente humana, entre tantas outras igualmente legítimas? Viver na perspectiva da diversidade ética exige de nós uma resposta positiva a estas indagações. Viver a minha vida de modo significativo, respeitando e acolhendo os outros que querem também viver significativamente.

São conhecidos os estudos que indicam a arrogância como manifestação de nossa insegurança: usamos o argumento da força quando nos faltam argumentos fortes. Assim o fanatismo religioso pode ser sinônimo de indecisão na própria fé, a homofobia pode ser o equivalente à indefinição afetiva, o autoritarismo político como expressão dos que não se garantem no poder pela via do consenso, a obsessão por armas pode desvendar o desejo oculto de ser assassino. Por fim, ou sonhamos com uma diversidade ética ou promoveremos catástrofes e ao fazer isto apenas revelamos nossa própria mesquinhez.

Mário Antônio Sanches é professor titular da PUCPR, atua no Mestrado de Bioética e no Mestrado e Doutorado de Teologia. É doutor em teologia com pós-doutorado em bioética.
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