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É bastante provável que nada de excepcionalmente di­­ferente acontecerá no país. No entanto, é possível que estejamos às vesperas de virar uma página na história política brasileira

O ex-ministro Pedro Malan cunhou a frase definitiva a respeito das previsões em nosso país: "No Brasil, até o passado é imprevisível…". E Eraldo Vidal Correa, ju­­rista e homem de finíssimo humor, costumava dizer que "o Brasil é um país tão estranho, que há certos momentos em que, se você não estiver totalmente confuso, é sinal de que está mal informado".

Não entendo por que, a cada ano, se repete a temporada de previsões econômicas, apresentadas com toda circunspecção por bancos, analistas e economistas em geral. Invariavelmente, elas são desmentidas pelos fatos, pela simplíssima razão de que é impossível estabelecer previsões muito precisas em um país em que 40% da economia estão na informalidade, a dinâmica econômica é fortemente influenciada pelo que acontece (ou não acontece) fora de nossas fronteiras. Apesar disso, haverá uma enxurrada de relatórios em que a inflação é prevista com duas casas decimais e o crescimento econômico idem. O Banco Central adota uma técnica mais prudente: a cada semana, ouve a opinião de mais de 100 agentes econômicos a respeito de suas expectativas para o futuro e publica o Relatório Focus, em que vai alterando as expectativas permanentemente. Não há pretensão de mostrar sabedoria premonitora, e sim de estar atualizado com as últimas modificações dos cenários.

Além das previsões econômicas, janeiro é também o momento de glória para todos os sortistas, leitores de búzios, cartas, borras de café, mãos, números etc. Não estou desprezan­­do essas "técnicas", pois eu mesmo, com todo o pretenso racionalismo, sou um agnóstico a respeito dessas coisas e não resisto a escolher números que somados e extraídos os nove fora, cheguem ao total de onze. Mas fico por aí em minhas crendices. Amigos meus, mais versados nessas coisas, me forneceram as seguintes previsões para 2010, que – segundo eles – são infalíveis: várias personalidades morrerão durante 2010; não divulgarei quais, para não parecer azarento. Fenômenos climáticos diversos acossarão o globo terrestre e o aquecimento global continuará a se agravar, mesmo porque os mais de 1 bilhão e 300 milhões de bovinos continuarão a arrotar e a soltar puns apesar dos alertas dos cientistas. É absolutamente certo que, se existirem, os tsunamis destruirão as áreas de costa e não as regiões interioranas. Escândalos políticos abundarão, ainda mais em ano eleitoral. Vários próceres do PT serão flagrados com dinheiro escondido em diferentes partes do corpo e da vestimenta, o que levará a oposição a protestar veementemente e ameaçar com CPIs até que se descobrirá que vários líderes dos partidos oposicionistas fizeram coisas parecidas e que é prudente deixar para lá o assunto todo.

Em síntese, é bastante provável que nada de excepcionalmente diferente acontecerá no país. No entanto – e agora falando sério – é possível que estejamos às vesperas de virar uma página na história política brasileira. Isso ocorrerá se o presidente Lula resistir à tentação de tentar prorrogar-se no poder, apelando para sua popularidade inédita, a exemplo do que fizeram seus vizinhos Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa caso se convença da inviabilidade eleitoral da ministra Dilma. Se Lula se resignar a enfrentar a eleição presidencial apoiando sua candidata, que até agora tem sido mais pesada e desajeitada do que um piano ou um ataúde de ferro para carregar eleitoralmente, submetendo-se a perder a eleição e aguardar quatro anos para tentar voltar ao poder, terá dado uma contribuição definitiva e inquestionável ao processo político-institucional do país. Porém, se não resistir aos apelos dos puxa-sacos, preocupados com a perda iminente de mais de 40 mil cargos comissionados e o acesso às tetas do governo, voltaremos uma vez mais à nossa rotina de salvadores da pátria e de líderes insubstituíveis. E teremos, mais uma vez, jogado fora uma oportunidade histórica para abandonar o rol dos subdesenvolvidos.

PS: 36 horas sem acesso à internet me impediram de enviar o artigo da semana passada e, ao mesmo tempo, agradecer aos meus pacientes leitores pelo privilégio de contar com sua leitura, desejando-lhes um excelente Natal e um 2010 que nunca tenha sido visto antes na história deste país em termos de boas notícias.

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Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR.

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