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Nada na política brasileira para a América Latina possui a urgência de conceder finalmente ao México a prioridade que merece. Nesse sentido, é uma pena que os ciclos políticos dos dois países estejam sempre fora de sincronia.

Agora mesmo o México vive os primeiros tempos de um presidente jovem e dinâmico. Em poucos meses, o país votou cinco ou seis reformas que se consideravam impossíveis, inclusive a do petróleo. Prepara terreno para vigoroso ciclo de crescimento com base em algo inimaginável no Brasil de hoje: um pacto negociado entre os três maiores partidos com vistas apenas ao interesse nacional.

O presidente Enrique Peña Nieto visitou o Brasil logo depois de eleito, suprimiu a exigência de vistos, mostrou-se convencido de que deveríamos nos tratar como sócios estratégicos preferenciais. Nomeou para isso uma embaixadora de luxo, Beatriz Paredes, intelectual respeitada, ex-governadora de seu estado, ex-presidente do PRI, o partido no poder. Havendo vontade política, seria a pessoa ideal para inaugurar a relação privilegiada que faz falta entre os dois países latino-americanos de maior população e economia mais expressiva.

Infelizmente, por aqui se vive clima de fim de reino, vazio de esperança e de sonho. O Brasil parece imitar o pior do México do passado, quando o PRI mantinha perpétuo controle do poder por meio da cooptação e da corrupção. O nosso monstruoso presidencialismo de coalizão pode contar com 80 % do Congresso (em teoria), mas jamais seria capaz de aprovar um pacto em favor do Brasil.

Quando comecei a lidar como diplomata com os assuntos mexicanos, nos anos 1970, possuíamos indústria e capacidade empresarial incomparavelmente mais adiantadas. Tudo isso acabou. Hoje, o México é o maior exportador de automóveis para os EUA e o terceiro maior para o resto do mundo. Enfrentou e venceu o choque de competitividade da China: conseguiu a proeza de ter custo de trabalho 15% inferior ao chinês.

Quatro anos atrás era moda exaltar o Brasil, onde se tinha a impressão de que tudo dava certo, e descartar o México, à beira do colapso devido à guerra bárbara que o governo parecia estar perdendo contra o narcotráfico. Hoje a situação se inverteu: o México ganha aplausos enquanto o Brasil só comparece na mídia internacional em razão das atrocidades dos presídios ou da incompetência nos preparativos da Copa.

Altos e baixos desse tipo ora favorecem um país, ora o outro. O importante é não ceder a uma rivalidade infantil e perceber que entre o maior latino-americano da Aliança do Pacífico e o maior do Mercosul deve haver coordenação em benefício mútuo e dos demais. Não será com a China e a Ásia que vamos integrar nossas cadeias produtivas. Com o México, que já dispõe de acesso privilegiado ao mercado dos EUA e do Canadá, o projeto seria exequível.

Desde que não se repita o diktat da presidente Dilma que, em março de 2012, impôs ao México uma cota restritiva de automóveis, fazendo com os mexicanos o que fazem conosco os argentinos. O resultado, dois anos depois, é que não conseguimos mais vender automóveis nem à Argentina, nem ao México, nem a ninguém.

Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo, foi secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) e ministro da Fazenda no governo Itamar Franco.

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