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O combate ao narcoterrorismo foi, enfim, federalizado graças a essa competente intervenção do governo central

O narcoterrorismo globalizado sofreu na quinta-feira um de seus maiores reveses quando a polícia do Rio de Janeiro, com forte apoio dos fuzileiros navais, escorraçou da Vila Cruzeiro, na Penha, a legião de facínoras que lá pretendia instalar um território livre – o Brasil do B – e impor as suas leis.

Nesta sexta, dia seguinte, os 16 blindados da Marinha e os 88 homens que os tripulavam foram reforçados por um forte contingente do exército, apoio tático da força aérea e um número não revelado de agentes de elite da Polícia Federal.

O combate ao narcoterrorismo foi, enfim, federalizado graças a essa competente intervenção do governo central. "Intervenção" e "Segurança Nacional" são palavras-tabu, malditas, politicamente impróprias, porque remetem aos pretextos militares dos anos 60-70 para aprisionar o país numa dolorosa ditadura. Mas o que está acontecendo no Rio é uma intervenção de fato, "branca", pontual.

E bem-vinda.

Governantes têm horror à palavra intervenção, fogem dela como o diabo da cruz. Compreensível, a intervenção é um recurso emergencial nas repúblicas federativas. As autoridades estaduais não querem parecer frágeis, incapazes de oferecer proteção à sociedade e as federais não querem parecer autoritárias nem assumir os riscos de um eventual fiasco. Sobretudo depois de uma campanha eleitoral na qual se discutiu abertamente a federalização da segurança pública.

A tradição política brasileira mostra uma preferência pelos arranjos informais e assim foi desta vez. Depois de uma infeliz ação do Exército em 2007, o governo estadual preferiu a ajuda dos navais, doutrinariamente mais ágeis, treinados para abrir caminho.

O narcoterrorismo que sempre procurou se legitimar oferecendo proteção às comunidades das favelas foi desentocado graças à eficácia das UPP, Unidades de Policia Pacificadora, criadas pelo governador Sérgio Cabral. Sem os seus santuários, a bandidagem recorreu à guerrilha urbana para aterrorizar a população, não conseguiu e, além disso, ficou longe dos seus "mercados".

Depois, a opção fatal: tentou criar um enclave. Foi varrida pelas forças da ordem. Isso existe, o Estado de Direito existe. Apesar dos tentáculos da corrupção e da dinâmica da impunidade, há uma noção do bem e uma percepção do mal. Estas saíram visivelmente reforçadas na inédita operação militar dentro de uma grande cidade brasileira. E transmitida pela tevê, ao vivo, em cores.

Na recente disputa presidencial o candidato José Serra estava certo ao reivindicar a federalização da segurança interna, mas errou feio ao propor a criação de um ministério de Polícia. A ação de governos estaduais competentes, afirmativos, devidamente entrosados com as pastas da Defesa, Justiça e Relações Exteriores enfraquecerá o narcotráfico e suas conexões com o narcoterrorismo internacional.

Mas é preciso prestar atenção à inevitável reação dos criminosos: expulsos das favelas onde operavam com relativo conforto, retornarão às ruas para assaltos, arrastões, sequestros e ações suicidas. Ou migrarão para cidades vizinhas. O crime organizado só conseguiu transformar-se numa ameaça efetiva ao poder do Estado porque há um fabuloso mercado para drogas. Com uma demanda reprimida, narcotráfico e narcoterrorismo fatalmente encolherão.

Cinco semanas antes da posse, a presidente Dilma Rousseff ganhou de presente uma doutrina de segurança pública testada e aprovada. Só falta estendê-la ao resto do país.

Alberto Dines é jornalista.

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