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Campanhas eleitorais raramente são justas. Políticos e partidos fazem o que for preciso para vencer. Chutes e pontapés abaixo da cintura fazem parte do enredo, nada apetitoso, das modernas democracias. É como se fôssemos obrigados a aturar esse tipo de coisa a cada quatro anos com o único objetivo de evitar aristocracias. No fim do dia, entretanto, e por mais que os marqueteiros especializados não queiram ouvir, importa muito pouco o que os candidatos e os partidos dizem. Em geral, o que decide uma eleição presidencial é o rumo da economia.

Pior do que ofender os ouvidos dos eleitores é ofender seus bolsos. Esses são visivelmente mais sensíveis. E, por mais que os condutores da campanha na televisão e no rádio sejam competentes, é pouco provável que eles consigam eliminar os efeitos ruins da inflação, do baixo crescimento e do desemprego. Os marqueteiros, afinal, não podem interferir na quantidade de produtos que uma família leva no carrinho de compras, nas dívidas que se acumulam na caixa do correio ou nas histórias de amigos que estão perdendo o emprego. Por mais que se esforcem em dizer que tudo isso nada mais é que uma "marolinha" momentânea, causada por uma suposta crise internacional, as pessoas acabam, no fim, trocando a guarda.

Os marqueteiros podem conseguir adiar essa troca. Por uma, duas ou três eleições, quem sabe. Mas é como adiar a ida ao dentista: quanto mais se demora, pior fica. E corrigir rumos no campo econômico é bem isso mesmo: gera consequências desagradáveis para trabalhadores e empresários. Os marqueteiros especializados, em geral, não querem ouvir esse tipo de coisa. Preferem fazer limonadas com limões secos!

Economistas, por outro lado, têm pouco – ou nenhum – espaço para aguçar o espírito criativo. Ao contrário dos marqueteiros, eles não podem falar, por exemplo, que dar independência ao Banco Central é entregar o mesmo aos banqueiros. Ora, pegaria mal ver um economista dizendo um absurdo desses, não é mesmo? Mas marqueteiros não têm a mesma preocupação. Eles podem criar uma peça televisiva, colocar pessoas perdendo o emprego, enquanto banqueiros gananciosos tomam conta dos rumos do país. E o Banco Central, o que é mesmo?

Economia, afinal, tem muito mais restrições que uma propaganda eleitoral. Para chegar a um resultado minimamente razoável, os economistas têm de aprender um monte de modelos chatos, derivar equações incompreensíveis, colher evidências em um sem-número de países e, claro, explicar para o leitor não familiarizado que independência do Banco Central nada mais é que deixar o mesmo trabalhar para cumprir a meta de inflação. Sem autonomia no trabalho, dificilmente alguém consegue cumprir uma meta, não é?

Não por outro motivo que a meta de inflação de 4,5% completará quatro anos sem ser cumprida no Brasil. E isso implica que o consumidor tem de fazer uma escolha toda vez que vai ao supermercado: ou desembolsa mais dinheiro para levar a mesma quantidade de produtos, ou leva menos produtos que no mês anterior. Adicione-se a isso o risco cada vez maior de perda de emprego, dado o baixo crescimento da economia brasileira. Em 2014 cresceremos, se tudo der certo, algo próximo a 0,5%!

Como se vê, a economia é um pouco mais complexa do que aparenta ser nas propagandas eleitorais. E ela ofende muito mais que as mentiras que são contadas no horário eleitoral. Quando a economia vai mal, o bolso, seja do trabalhador ou do empresário, vai mal. E, a despeito de insultos e pontapés entre os candidatos, é ela quem quase sempre decide o vencedor.

Vítor Wilher, economista, é especialista do Instituto Millenium.

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