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Quando ninguém paga, todos pagam
| Foto: Felipe Lima

Para aqueles que costumam viajar de avião, a cobrança pelo despacho das bagagens já é uma realidade. Com a recente desregulamentação do setor, a entrada das companhias aéreas conhecidas como low cost (isto é, de baixo-custo) introduziu um novo modelo de negócios que também gera polêmica: a cobrança das bagagens de mão. Mas será que essa cobrança deveria gerar tanto barulho?

As empresas low cost, como a Norwegian, a JetSmart, a FlyBondi e a Sky Airline vendem tarifas econômicas em que a bagagem de mão se limita ao “item pessoal”. Ou seja, a passagem apenas inclui um item que caiba abaixo da poltrona; caso o passageiro necessite utilizar o compartimento superior, deve pagar uma taxa para levar a mala de mão.

Embora esse modelo de negócios, em que a empresa oferece tarifas superbaratas e cobra todos os demais serviços, seja comum no resto do mundo, ele é novidade no Brasil. E, claro, ninguém gosta da ideia de “pagar mais caro” para levar bagagens, sejam as despachadas ou, ainda, as de mão. Ao contrário do que se pensa, os passageiros já pagavam pelo transporte das bagagens. Apenas não tinham essa percepção, pois o custo desse transporte já estava incluso na tarifa e diluído entre os passageiros que levam muitas malas e aqueles que levam poucas.

Para ilustrar o que acontece na prática, suponha que você irá sair com cinco amigos para um restaurante ou um bar. Ficou estabelecido que, não importando o consumo individual, a conta total será dividida igualmente entre as seis pessoas do grupo. Então, neste caso, as pessoas que consumirem abaixo da média do grupo irão pagar pelo consumo daquelas que fizeram mais pedidos. E o pior: esse sistema de divisão incentiva todos a consumirem mais do que fariam normalmente. Qualquer pessoa do grupo irá preferir consumir de forma igual à média ou acima dela, para ficar com a vantagem de ter outras pessoas pagando parte da sua conta.

O mesmo raciocínio se aplica às bagagens nos voos. As malas adicionam bastante peso à aeronave, o que significa um maior gasto de combustível para as companhias e, consequentemente, passagens mais caras. Se o preço das bagagens, sejam despachadas ou de mão, já está incluído na passagem, o passageiro não tem nenhum incentivo para se preocupar em levar somente aquilo que irá utilizar. Afinal, quem nunca levou aquelas roupas ou livros que nem sequer tocou durante a viagem?

O fato é que a cobrança individual das bagagens despachadas, como mostra um estudo feito para o Brasil, reduziu as tarifas sem direito a despacho. Só a mera existência da possibilidade de tarifas em que as bagagens não estão inclusas aumenta a concorrência no setor, pois permite que as empresas low cost operem no Brasil, o que por sua vez também reduz o valor médio das tarifas nos trechos em que essas empresas operam.

Recentemente, o Ministério Público Federal solicitou à Anac para que medidas que proibissem a cobrança fossem tomadas. Apesar das boas intenções do MPF, se a Anac voltar a obrigar as companhias aéreas a apenas oferecer tarifas com a as bagagens incluídas, não só teremos menos companhias operando no Brasil, mas também haverá aumento no preço médio das tarifas. Essa medida poderia até alegrar alguns viajantes, mas limitaria as opções de escolha de todos os consumidores e colocaria o Brasil mais uma vez na contramão do resto do mundo.

Deborah Bizarria, graduanda em Economia, é especialista em Economia Comportamental pela Warwick University e é Leadership Associate do Students For Liberty.

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