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Casa destruída e corpos cobertos no assentamento Beeri, no sul de Israel, onde ocorreu um dos ataques mais letais da ofensiva do grupo terrorista Hamas.
Casa destruída e corpos cobertos no assentamento Beeri, no sul de Israel, onde ocorreu um dos ataques mais letais da ofensiva do grupo terrorista Hamas.| Foto: EFE/Alejandro Ernesto

Há quase uma semana vimos chocados notícias sobre a guerra entre o Hamas e israelenses. As barbaridades são aterrorizantes. Mulheres, crianças, civis sendo mortos a sangue frio é algo impensável nos dias de hoje e nos remonta às invasões bárbaras na Europa no século V a VIII. As atrocidades tendem a se agravar ainda mais, a depender das reações dos demais países vizinhos, como Irã, Arábia Saudita e Cisjordânia.

A cobertura jornalística detalha a origem do conflito, que remonta há 70 anos, com a criação do Estado de Israel e da Palestina, mas pouco aborda porque os líderes mundiais só acompanham a distância a escalada de conflitos na região.

Esta dança macabra do mundo com o Oriente Médio em constante conflito, só tem gerado perdas à humanidade.

Esta é uma guerra atípica. Não se trata simplesmente de vencer, pois do ponto de vista de poderio militar, o desequilíbrio é gigantesco entre os combatentes. Não se busca conquista de território, obtenção de poder ou impor um regime religioso ao inimigo. O tamanho irrisório de Gaza, um pouco menor do que um quarto da cidade de São Paulo, sua irrelevante localização geográfica para logística comercial e a inexistência de óleo e gás, não justificam uma briga por território. Segundo dados do FMI, nesta pequena área vivem pouco mais de 2 milhões de pessoas com uma renda per capita equivalente a mais ou menos um terço da brasileira. Quase 40% do povo de Gaza têm menos de 14 anos. Ambos os lados buscam varrer o inimigo do planeta. Ou seja, o vencedor da guerra, além de genocida, trará para si terra infértil e multidão de pobres. Sabendo que uma guerra tem sempre um objetivo político e econômico, quem está se beneficiando com essa guerra?

Os mais afobados logo apontam para indústria bélica. O setor, mesmo nos momentos de paz mundial, já movimenta quase dois trilhões de dólares todos os anos, cerca de 2,7 % do PIB mundial. Na maioria dos países está intimamente ligado aos governos, o que cria uma inibição no livre mercado de comércio armamentista. Portanto, dificilmente algum eventual benefício compensaria o prejuízo para os governos de todo o mundo, se compararmos com os demais efeitos colaterais que advirão desta guerra.

Os principais países produtores de petróleo não têm nada a ganhar. Estes, antes mesmo da guerra, já vinham exportando petróleo em larga quantidade, beneficiando suas contas publicas, abatendo dívida e gerando investimentos em infraestrutura. Se a guerra se expandir haverá, como sempre, bombardeio de poços de petróleo e gás, terminais portuários e refinarias. Consequentemente, reaperto de sanções econômicas do ocidente.

É uma guerra absolutamente atípica que só gera perdedores. O povo palestino está prestes a ser dizimado; os israelenses aumentam o conflito com os demais povos árabes e muçulmanos, gerando mais instabilidade, o que é prejudicial para o desenvolvimento econômico da região. Conflitos armados geralmente causam devastação econômica nas áreas afetadas. Os altos custos associados à guerra, como destruição de infraestrutura, a perda de vidas e a necessidade de gastos em defesa e segurança, geralmente superam qualquer possível ganho econômico que possa haver, mesmo nos conflitos que buscam agregações territoriais, como no caso da guerra da Rússia com a Ucrânia. Ou seja, não será na região afetada que haverá algum benefício.

O preço do petróleo subirá; a taxa de juros da economia norte americana será impactada e deverá interromper a sua trajetória de queda; a cotação das principais moedas do mundo sofrerá ataque especulativo. Ou seja, o conflito prejudicará ainda mais a já combalida economia mundial. Além do mais, tudo leva a crer que Israel não poupará esforços para descarregar toda sua ira contra a barbárie sofrida. Em breve haverá declarações de protesto sobre a virulência da resposta, revolta popular em países árabes e muçulmanos e algum incidente que agrave ainda mais esta situação, que como sempre, culminará com atentados terroristas pelo mundo afora.

Europa e Estados Unidos estão perdidos. Se reagiram rapidamente à guerra da Ucrânia, com sanções econômicas e apoio militar, financeiro e migratório ao país invadido, agora parecem em compasso de espera. China, como sempre, pouco se manifesta em conflitos externos. E a  questão também não é religiosa. Há poucas décadas, não se falava tanto em Oriente Médio, mas em Levante, região geográfica que alcançava a Palestina, Síria, Jordânia, Israel, Líbano e Chipre, podendo alcançar Turquia, Iraque Arábia Saudita e Egito onde, em muitos momentos da história, as diferentes religiões coexistiam de forma pacífica. Muçulmanos, cristãos e judeus conviviam em harmonia.

Até agora não se ouve manifestações dos líderes mundiais sobre o que fazer da desgraça contínua na região. Esta dança macabra do mundo com o Oriente Médio em constante conflito, só tem gerado perdas à humanidade. Enquanto o mundo continuar achando que o problema é regional, as rotas de saída deste horror só tendem a se estreitar. Hoje já estão mais afuniladas do que o próprio território da faixa de Gaza. Difícil imaginar a quem possa interessar essa guerra.

Maurício Ferro é advogado.  

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