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| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

O protesto dos caminhoneiros contra o valor do diesel afetou todo o país. Houve falta de combustível nos postos, ausência de alimentos nos supermercados e preocupações tanto do pequeno comerciante quanto da grande indústria. Curitiba não ficou à margem das consequências da paralisação. A cidade também registrou diversos problemas. As dificuldades e os prejuízos só não foram maiores, porém, porque o transporte coletivo operou normalmente e atendeu a população.

Logo que os bloqueios de rodovias tiveram início, as empresas de ônibus, em ação coordenada pela Prefeitura de Curitiba em conjunto com a Urbs e os órgãos de segurança, não mediram esforços para garantir o funcionamento do sistema. Não foi um trabalho fácil.

Cada empresa tem o seu fornecedor, as garagens estão localizadas em vários pontos da cidade, a necessidade diária é de 200 mil litros de diesel, caminhões-tanque tiveram de ser escoltados mais de uma vez durante a madrugada, numa operação bastante desafiadora.

Mas o esforço foi recompensado: o transporte coletivo funcionou com 100% da frota, destacando-se entre as capitais e fazendo jus a sua fama de sistema modelo no país. A percepção rápida do problema e a ação correta deram confiabilidade aos passageiros e garantiram a ida ao trabalho e a volta para casa.

O transporte coletivo funcionou com 100% da frota, destacando-se entre as capitais e fazendo jus a sua fama de sistema modelo no país

Além disso, esse episódio serviu para mostrar que é o transporte coletivo que atende plenamente a população e, por isso, ele deve receber atenção especial na formulação de políticas públicas.

O ônibus precisa dispor de prioridade nas ruas, rodar numa infraestrutura adequada, contar com recursos para garantir tarifa acessível e ser protegido, principalmente da concorrência desleal com aplicativos de transporte, que, aliás, aproveitaram-se da situação, dificultando ainda mais a mobilidade da cidade.

Essa disputa injusta entre o ônibus e os apps ficou clara durante o protesto dos caminhoneiros. Por ser um serviço público essencial, o transporte coletivo deve garantir três compromissos: 1) atender grande parte do território urbano e sua população (obrigação que os apps não têm); 2) deve ser oferecido a preços módicos (por outro lado, os apps obedecem leis de oferta e demanda e, como se viu durante a paralisação, o valor da corrida nos apps chegou a ser triplicado em alguns trechos); 3) deve ser ofertado de forma contínua, mesmo nos horários de baixa demanda, com rotas e horários definidos pelo poder público (nos apps não existem linhas deficitárias e os serviços podem se concentrar nas linhas mais lucrativas).

Leia também: Nossa matriz de transportes desequilibrada (artigo de Fernando Simões Paes, publicado em 12 de junho de 2018)

Opinião da Gazeta: Omissão sobre trilhos (editorial de 12 de junho de 2018)

Ressalte-se, ainda, que os apps prejudicam os ônibus enchendo as ruas de carros e contribuindo para aumentar os congestionamentos.

Cabe esclarecer, porém, que as empresas de ônibus não são contra os apps, mas acreditam que essa concorrência desleal não pode continuar.

Por fim, se já era consenso entre especialistas que a solução para resolver os problemas de mobilidade urbana nas cidades passa pela prioridade ao transporte coletivo, o protesto dos caminhoneiros só reforçou essa ideia. E a pergunta do título está respondida: quem realmente atende a população é o ônibus.

Mauricio Gulin é presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp).
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